sexta-feira

Diferenças, cotas e injustiças


Foto Helen Levitt


Se as pessoa são corpos sensíveis e se as diferenças individuais resultam de contingências circunstancialmente explicáveis, nada justifica a (ainda) rigidez das castas e classes sociais baseada em poder financeiro ou privilégios em relação aos menos dotados. A única hierarquia possível se sustentaria então em superioridades extrínsecas e acidentais – diferentes graus de instrução, expertises técnicas e profissionais, que podem conferir alguma autoridade funcional a determinadas pessoas. E essa hierarquia não confere a ninguém direitos humanos diferentes dos consagrados e universais. 
Por isso, quando se falou das cotas, a princípio achei que isso só iria reforçar a discriminação injusta baseada nas diferenças raciais que, mesmo absurda, ainda aflige grande parte de nossa sociedade. 
Mas ouvindo a opinião da ministra Cármen Lúcia, acabei concordando com a existência dessas cotas. Diz ela: "As ações afirmativas não são as melhores opções, a melhor opção é uma sociedade com todo mundo livre para ser o que quiser. Isso é um processo, uma etapa, uma necessidade em uma sociedade onde isso não acontece naturalmente."
A ministra tem toda razão. Não se trata simplesmente de "dar uma chance" aos menos privilegiados, mas de tentar corrigir um erro estrutural dessa sociedade, que parece nunca perceber que as diferenças não significam superioridade ou inferioridade, mas apenas diferenças puras e simples, que não tornam ninguém melhor ou pior que os outros. 
Melhor ainda vai ser quando a camada mais pobre da sociedade ganhar oportunidades em pé de igualdade com as classes mais privilegiadas, com acesso a  boas escolas que lhes abram espaço a um futuro mais promissor. O que na certa dispensaria a política das cotas.
Mas aí entra a questão dos professores, uma das classes mais mal pagas do país. Até quando?

10 comentários:

mfc disse...

O regime das quotas deve existir enquanto a sociedade for discriminatória!
Não é uma regra, mas sim uma excepção!!

AnaC disse...

Desde o início impliquei com a ideia das cotas. Mas na verdade, talvez muita coisa mude para melhor, depois dessa decisão do STF.

Bjss.

Nilson Barcelli disse...

Onde houver pobreza, as cotas devem ser impostas. É uma correcção estrutural, pois há pobres com muita capacidade.
Beijo, querida amiga.

Lua Nova disse...

Estamos muito longe de uma sociedade ideal onde "a melhor opção seria que todo mundo fosse livre para ser o que quisesse." Nesse caso se torna necessário lançarmos mão de expedientes como o das cotas, e nisso a ministra tem razão quando diz que é algo artificial e parte de um processo, que visa garantir dessa forma o que deveria ser natural e desejável: a igualdade de fato entre as pessoas.
Adoro ler o que vc escreve.
Tava com saudades.
Beijokas e meu carinho.

Nanda disse...

Dade; não acho que o sistema de cotas seja o melhor. O melhor seria um sistema de educação pública de qualidade. Aí, todos chegariam com as mesmas chances 'lá na frente'; na hora das universidades. Mas pedir pra melhorar o sistema público parece piada. Inventaram até a aprovação automática. Pra mim, essas ações apenas disfarçam; são uma maquiagem. Mas o problema continuará lá, intocado. E vamos pagar bem caro por isso, no futuro. Beijos grandes!

dade amorim disse...

Exatamente, amigo mfc, esse é o ponto.

Beijo.

dade amorim disse...

Sabia que você ia perceber isso, Ana, você é uma das pessoas mais espertas que conheço.

Beijo beijo.

dade amorim disse...

É isso, Nilson, você está certo.

Beijo.

dade amorim disse...

Obrigada, Lua Nova, também gosto muito de ler você, mas não sei o que está havendo, tenho tido muita dificuldade em acessá-lo, sabe por quê?

Beijo grande.

dade amorim disse...

Também penso nisso, Nanda.

Beijo beijo.