segunda-feira

Vincent

Starry night com Don McLean



No Inscrições, um poema para Vincent.

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Blogagem coletiva
Como você escolhe seus amigos?

Não sei se a Milene se importa muito com uma blogagem atrasadinha.
Liga não, Milene, é que achei o tema bem interessante e resolvi arriscar.
Se você gostar, já fico bem contente, combinado?


Nem sei se amigo se escolhe ou se encontra.

Acho que tenho encontrado meus amigos pela vida. Porque amizade é um pouco como o amor - é à primeira vista ou então é uma descoberta súbita, quando você já conhece alguém mas ainda não tinha prestado muita atenção. Amizade, assim como amor, se acende de repente.

Não me lembro de algum dia ter premeditado ser amiga de alguém, e pensado deve ser bom ser amiga dele/a, vou levar pra minha coleção. Então, em meu caso particular pelo menos, meus amigos têm sido bons encontros.

Pela web acontece a mesma coisa. Aqui não se vê o rosto, vê-se o texto ou a imagem que ela posta. E como certos textos são irresistíveis e certas imagens têm um encanto diferente, vou procurar seu/sua autor/a. E quase sempre é assim - Fulana faz poemas que me deixam em estado de graça, Fulano escreve de um modo irresistível ou ela fotografa com uma competência que me dá inveja.

Nem sei se posso chamar isso de critério. É casual, é bom demais.

quarta-feira

Notículas



Começou hoje. Com chuva e nuvens, um friozinho de serra aqui neste bairro desta cidade decadente. As flores existem, apesar de tudo, mas não sei por quanto tempo ainda vão ter condições de aparecer nos anos do futuro. Mesmo quando recomeçar a primavera.


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História incompleta está completa agora.
Continuará para sempre incompleta, ainda assim.
Me deu muito prazer vê-la ir se desenrolando, acho que o método de trabalho deu certo, criou certa disciplina e mostrou resultados antes do habitual.
Valeu, blogger.
Acho que vou repetir a dose em outra história que anda varrumando minha cabeça.
Não sei vocês, mas eu gostei da experiência.
Espero que possa ter sido bom pra vocês também.

domingo

Ser ou não ser, eis o mosaico

Texto participante da blogagem coletiva proposta pela Elaine Gaspareto.




Quem pode dizer que está inocente do que acontece a sua volta? Não me atrevo. Nem mesmo posso ter certeza do grau de participação que me cabe em cada acontecimento. Mas que cada um joga seu dadinho nessa grande roleta que é a vida, isso joga sim. Nem me venham dizer que fui a única culpada de tudo que aconteceu a mim ou aos mais próximos, mas é mais que provável que, mesmo sem ter consciência disso, eu tenha atrapalhado a vida de alguém ou dado um empurrãozinho em quem já estava com o pé do lado de fora da janela.

É estranho olhar a vida por esse prisma. É como olhar o mundo através desses cristais facetados, em que as imagens se repetem e multiplicam em ângulos diferentes, cores alteradas, e deixam quem olha fascinado com a diversidade de formas, querendo dar conta de todas elas. É como ver de perto as imagens de Vic Muniz, composições de milhares de imagens mínimas que se perdem na visão de conjunto de cada quadro.

Mas, assim como cada um de meus semelhantes, eu sou um mosaico. Minhas escolhas envolvem fatores e condições que não estavam previstas ou não poderiam ser bem avaliadas antes de se tornarem uma contingência ao vivo.

Quantas vezes quis alguma coisa que deu em outra, errada ou não. Quantas outras vezes acertei em cheio sem querer muito, tateando um pouco no escuro, indecisa quanto ao lado a seguir. Amei alguém que poderia ter sido tudo, e encontrei outro que efetivamente foi tudo. Detestei pessoas que hoje seriam indiferentes e não tiveram qualquer peso em minha vida. Amei gente que não merecia, sofri por causas que não eram minhas, falei mal de pessoas que não eram más, prestei homenagem a quem não valia a pena.

Mas como o que se faz da vida não pode ser o que a vida faz da gente, insisto em ser sujeito de minhas decisões e seguir os rumos que prefiro. Tento amar muito, não sei se sou capaz de querer tanto bem quanto imagino. Tento me realizar no trabalho, mas ainda não encontrei os instrumentos certos – e pior, talvez nas cavernas onde ainda não consegui jogar luz, não queira encontrar. É preciso lidar com as próprias resistências e a idealização, ninguém vive sem elas. Então, se eu disser que sou cem por cento alguma coisa, estarei na certa mentindo. E se quiser aparecer com cara de anjo, vou motivar as pessoas a procurar meus cascos de coisa ruim. É da sabedoria popular: ninguém acredita em auto-elogio. O povo sabe das coisas.

quinta-feira

A poesia segundo Cabral e o caderninho

Lavo a alma lendo boa poesia. No antigo caderninho de onde tiro poemas, pequenas crônicas e textinhos inclassificáveis, achei esse texto, escrito não sei quando:


Acredito na poesia como uma experiência que não para de se renovar, e ao longo do tempo pode tornar as pessoas melhores. O exercício da poesia induz o autoconhecimento, sem o qual ninguém sai do lugar. Dá a medida e o peso do que é preciso saber, porque ilumina a razão com a experiência mais íntima das coisas e dos acontecimentos. Aliás, poesia é acontecimento.

Poesia não serve para rimar palavras ou burilar frases de efeito. Ela relativiza as defesas que criamos para nos aprisionar; remove as máscaras com que tentamos nos esconder ou nos engrandecer. Desmistifica toda fantasia que não exista para celebrar, mas para enganar os outros e a nós mesmos. O exercício da poesia revela a inutilidade de nossos álibis. É o par de asas a nosso alcance.

Acredito profundamente na poesia, porque aproxima estranhos e diferentes, semeia um conhecimento para o qual não existem currículos, desperta as pessoas para uma liberdade que nada pode destruir. Porque consegue dizer o que nenhuma outra linguagem comunica. Um bom poema é o simulacro de um momento na vida de alguém, com sua grandeza e fragilidade.

Acredito na força da poesia, capaz de revelar beleza em uma fruta, um corpo ou numa guerra; numa paixão ou num canto de casa empoeirado, na lama da estrada, nas nuvens de chumbo – melhor ainda se o arco-íris não aparecer.

E porque não se impõe nem obriga a nada, acredito que a poesia é a expressão mais verdadeira da difícil liberdade humana.


Imagem Iman Maleki. Menina lendo.



Foto David Pichiottino. Lampadaire nuit.


‘A palo seco’*, poema de João Cabral de Melo Neto, poeta brasileiro nascido em Recife, 1920, que morreu no Rio de Janeiro em 1999, fala de um conceito de poesia que me parece coisa de gênio (que ele era).


Aqui vão alguns trechos:

1.1 Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;

(...)

4.1 A palo seco canta
o pássaro sem bosque,
por exemplo: pousado
sobre um fio de cobre;

a palo seco canta
ainda melhor esse fio
quando sem qualquer pássaro
dá o seu assovio.


* Do espanhol, a expressão Cantes a palo seco diz respeito a um tipo de música pertencente à categoria dos palos flamencos. São tradicionalmente cantados à capela ou, em alguns casos, acompanhados apenas por algum instrumento de percussão. O poema completo pode ser encontrado aqui.

sábado

Tempo trançado














Às vezes, quando o passado se trança com o presente, as coisas se complicam e nosso tempo acaba ficando assim, meio em tiras, o perdido e o ganho convivendo em uma paz aparente que a qualquer momento pode se esfarelar e fazer desandar a vida.



atrás da porta do armário
numa sacola de camurça
ruça
deixo ficar os dias
que se recusam a virar passado

as pétalas e
as cartas sem resposta
um dia se esfarelam sem aviso
mas há desejos de longa duração
amores refugados
e algumas alegrias
dessas que os poetas antigos chamavam peregrinas
que não se quer esquecer

quem disse que só temos
o presente?
ou dito de outro modo
talvez nosso presente seja
exatamente
uma sacola velha de camurça

quarta-feira

Com licença do Lau Siqueira, poesia sim


Antologia bloética: Poemas e Poetas, um novo espaço para a poesia. Uma boa ideia em forma de blog, que vale a pena conhecer.

Não consigo entender essa coisa de que poesia não vende.
Nâo? Mas todo mundo lê e gosta.
E já que agora a tendência é ler cada vez textos mais curtos, por que não poemas?
Não acho legal essa tendência, estou só constatando uma realidade que a internet confirma a cada dia.
A internet, essa faca de tantos gumes.
Favorece a preguiça de ler, mas traz até os leitores textos e autores que não seriam lidos fora da família ou dos amigos mais próximos. A rede torna mais difícil ler durante muito tempo seguido, tem apelos demais, interesses de mercado que literalmente pulam diante dos olhos e dispersam a atenção, além da luminosidade que irrita muitos olhos e da diversidade de atrações.
Mas há os leitores de fé, esses que não dispensam um livro nas mãos e um espaço de paz para aproveitar na leitura que lhes dá prazer, e continuam bem conscientes da falta que faz um bom livro.

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Um rapazinho!
Uma nova primavera –
e passaram sessenta anos.

Koi Nagata (1900-1997)

Quem diria! Sessenta e cinco, para ser mais exata. Mas continua a ser ele.

domingo

À deriva



Ele falava às vezes como quem desembarca de estrelas trituradas - farpas que ela reencontrava nas curvas do caminho do dia; falas rascantes capazes de quebrar o sono em pedaços.

Esse pedaço de texto esquecido serve de epígrafe a um comentário sobre o filme de Dhalia. Mas o filme é muito, muito mais.

terça-feira

Pérolas

Chris Marker
La jetée, o curta de Marker que inspirou 12 Macacos, de Terry Gilliam.


No blog Luzia - Crítica de Cinema, uma análise bem desenvolvida desse clássico de Chris Marker.


A arte que não mobiliza as faculdades físicas e mentais deve ser questionada. Pode ser várias coisas, mas não deve ser arte. A arte, seja visual, literária ou musical, deve ser como uma nova fase de vida e um novo olhar sobre o mundo. Dela sempre nasce uma dúvida, uma curiosidade, um susto, um desejo. A arte deve ser como uma luz que entra em nós pelos sentidos, acelera o sangue, aguça a sensibilidade e ilumina a inteligência. A arte que não produz alguma inquietação não cumpre bem o que se espera dela.

Personalidade que encarna essa filosofia, Chris Marker está bem caracterizado nessa entrevista em que ele fala de suas atividades múltiplas, seus interesses, suas realizações. Cinema, fotonovela, CD-Rom, instalação de vídeo são alguns dos meios que experimentou em sua longa carreira, numa obra permeada da poesia das imagens e do profundo conhecimento das pessoas e suas histórias. Mais sobre ele aqui.


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Pérola negra e rara:






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O Rio e as Olimpíadas de 2016




Dê só uma olhada!
Vale pelo visual de nossa cidade, que é mesmo de tirar o fôlego.
Mas por enquanto, tudo não passa de uma expectativa.
Veja também aqui.