domingo

Pelos cotovelos



Mais ou menos às quatro e meia da tarde passa um padeiro em minha rua. A gente sabe que ele está chegando pela buzina poderosa, que se escuta por todo o quarteirão. Se estou em casa nessa hora, gosto de comprar uns franceses quentinhos para o lanche.
Mas há alguns dias passei a só descer se dona Carmita não estiver lá escolhendo seus pães doces e bolinhos, feitos pela mulher do padeiro, que são mesmo uma delícia. Mas se ela já tiver descido, fico bem quieta e espero que entre em seu apartamento. Porque dona Carmita fala tanto e tão alto, que já provocou incidentes desagradáveis no corredor, segurando a porta do elevador enquanto comenta suas vicissitudes familiares, de saúde, e fala dos preços, dos netos rebeldes, do motorista de táxi que cobrou além do preço, do médico, da violência. Dona Carmita é dessas pessoas que começa a falar e esquece de acabar.

Tive um amigo assim. Era professor universitário, homem cultíssimo e de conversa bem mais agradável que a de dona Carmita. Mas não sabia como se para de falar. Numa das inúmeras formaturas em que foi homenageado pelos alunos, meu amigo preparou um discurso escrito – ele, que sempre fazia lindos discursos quilométricos de improviso – e jurou a si mesmo que não passaria dos quinze minutos. Ensaiou na frente do espelho, pediu que o ajudasse a cronometrar o tempo da fala, e por fim chegou à tribuna todo seguro de si, as folhinhas arrumadas e numeradas, e começou a ler com sua bonita voz de barítono. Não resistiu, porém. Era mais forte que ele. Aos poucos as folhinhas começaram a ser esquecidas e, lá pela quinta, ele passou a ignorá-las solenemente. O discurso durou duas horas e quinze minutos. Mas foi um dos mais bonitos e comunicativos de sua carreira. Quando enfim acabou e desceu da tribuna, veio todo satisfeito. “Que boa idéia!” – disse. “Daqui em diante nunca mais deixo de escrever meus discursos.”

quinta-feira

Haicai

Delicadeza nipônica










Talvez os dissonauros
tivessem tido uma dose
fatal de melancolia.

Kyoko Matsumoto (1958)







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Em O bem o mal e a coluna do meio, hoje reina Simonal.

segunda-feira

Peixes metafóricos, gentes e uma croniquinha












Organização é um artifício como as redes que se lançam ao mar, com armadilhas para pegar o que cair dentro delas. Sem organização não se pega peixe nenhum.


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Dentro de cada um dorme uma multidão de possibilidades – ideias, impulsos, desejos e sonhos. Enquanto se faz isso ou aquilo, movimenta-se só uma parte do acervo. Deixado ao acaso, o que não se aproveitou e ficou sem uso pode virar desilusão, tristeza ou má consciência.

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No dia das bodas de prata, ela escreveu à mãe: “Em 25 anos, ganhei três filhos e 10 quilos. Minha felicidade seria completa sem esses 10.”


De livros e blogs



Foto Alexandre Dulanoy.


Um blogueiro de São Paulo escreveu, em 2007, um texto sobre publicar em livro e pela internet, que trazia o seguinte trecho:
“... no caso específico da publicação de livros, ou melhor, de livros com pretensões literárias, o retorno é quase sempre semelhante ao de um blog com pretensões literárias: nenhum. Um em, sei lá, milhões, consegue publicar um livro literário que lhe renda o sustento ... Mesmo os nossos melhores escritores tiveram de trabalhar ... Estou falando dos melhores escritores brasileiros: Machado de Assis, Euclides da Cunha, João Cabral de Melo Neto, Lima Barreto ... E por isto fico com o blog, que ao menos é mais barato.”

Óbvio? Sei não.

Primeiro, porque me parece um falso dilema. Se não existissem os blogs, as dificuldades para os autores novos seriam as mesmas – ou até piores, como o próprio autor reconhece. Segundo, porque não há como tomar partido de uma ou outra forma de escrita. O livro de papel é insubstituível, embora se reconheçam as comodidades da rede para quem quer publicar e ser lido em prazo menos longo. Não há por que ver uma competição estrita entre os dois.

Os processos que orientam cada um desses meios de publicação são irreversíveis. O livro impresso vem de longe, tem história e já firmou seu espaço em todo tipo de assento deste mundo. Os melhores blogueiros certamente tem estrada na leitura de livros, ou não seriam os melhores. Quem tem condições de produzir um bom texto literário, no monitor ou no papel, começou pela leitura de livros. As universidades do mundo todo ano despejam milhares de entendidos em literatura, autores, mestres ou críticos em potencial, gente que consome livros e vai alimentar a literatura impressa, ainda que mantenha blogs ou sites sobre seu trabalho. Mestres e alunos necessitam dos livros, ao mesmo tempo em que reconhecem a conveniência de usar a internet.

Acho que as duas vertentes não precisam entrar em choque. Isso não interessa ao mercado editorial nem ao de informática, assim como não interessa aos leitores nem aos autores. Uma e outra se tornarão tanto mais complementares quanto maior for a inclusão digital, pelo crescente acesso à informação e pelo poder de marketing dos terminais. E se o livro é mais caro, há estratégias para baixar seu preço, e a inclusão digital é parte dessas estratégias. Outros recursos, como sebos, feiras de livros e bibliotecas, públicas e particulares, continuam ativos e se expandindo. E o prazer de ler, para quem o descobre, é motivo bastante para não abrir mão do livro, real ou virtual.

E vamos ler!






O Prêmio VivaLeitura é um incentivo para educadores, editores, escritores e todos aqueles que se interessam em difundir a leitura

Informe-se, crie um projeto e concorra, vale a pena.

sexta-feira

O adestrador e outros herois

Simonal

Não sei vocês, mas eu tinha esquecido quase completamente de Wilson Simonal, quando o filho dele começou a divulgação do documentário que visa resgatar a memória do cantor e compositor, grande sucesso nos anos 1960-70. Nunca fui uma fã desabalada de Simonal, que me parecia meio pretensioso demais. Além disso, era a imagem do machismo, cantando Nem vem quenão tem, de sua autoria, e o machismo é uma atitude que me cheira a burrice e grosseria. Agora imagino que talvez tenha sido um juízo precipitado, talvez ele quisesse apenas abalar as massas, que comandava com suingue e muita bossa.
Suas composições e as de gente como Jorge Ben Jor, Tim Maia e Ronaldo Bôscoli, entre outros, fizeram enorme sucesso na voz dele, e ficaram para sempre na galeria das inesquecíveis da MPB.
Na verdade, ninguém é perfeito. Mas tudo leva a crer que a campanha que terminou por jogar Simonal no ostracismo provavelmente se originou de um desejo de vingança e não passou de uma calúnia. A vida e a carreira de Simonal, que morreu sem chance de defesa, merecem essa revisão.
E o Movimento Negro poderia bem eleger o Tributo a Martin Luther King, que ele compôs com Ronaldo Bôscoli, como um hino capaz de mobilizar o público e revigorar em nossos dias as belas ideias de King, que nunca vão perder a atualidade.




Neste site, você encontra a biografia de Simonal e algumas de suas interpretações.

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Adestrador-maravilha

‘Impressionante e lindo’ foi como meu amigo Antônio Cardoso Pinto, de Portugal, chamou esse vídeo, e não vejo um nome melhor: esse adestrador consegue a amizade, não de um leão, mas parece que de todos os leões que cruzam seu caminho.



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Depois de Susan Boyle

Alguém já ouviu um contratenor cantar? Se ainda não conhece esse registro de voz, veja e ouça aqui – ante o mesmo juri que consagrou a irlandesa revelação.

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Selos, selinhos e iluminações


Obrigada, Valdemir Reis!










Presente do professor Israel. Parabéns, professor!








Esse presente é para O bem o mal e a coluna do meio, da Cezarina, do Alma Cigana


Amei, Cezarina! Obrigadíssima e um beijo.
Lá vai a frase, levemente modificada para maior adequação ao contexto:

Se eu sou luz, quero iluminar, porque a luz serve pra isso!

Manda o protocolo que os donos dos blogs escolhidos completem a frase:
"Eu sou Luz e quero iluminar..." e postá-la no blog.

Também devem escolher cinco blogs para receber o selo.

Bom, escolhi os cinco entre queridas amigas blogueiras:

1) Cris
2) Aninha Pontes
3) Dora Vilela
4) Carol Timm
5) Nanda

terça-feira

Evocação 2


O olhar para a caixinha de plástico verde sobre o peitoril da janela da copa desencadeou uma corrente de sensações amenas – como se estivesse diante de um lago sereno cercado de canteiros floridos, árvores e sombra. Ficou assim parada, fruindo a caixinha e seus dons. Não lembrava de onde teria vindo, mas sabia que estava em sua vida há muito tempo. Devia estar associada a um momento muito feliz. Uma caixinha de plástico verde, e o verde nem era tão bonito.

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O mundo perde Mario Benedetti


Morreu ontem, aos 88 anos, em Montevideo, o escritor Mario Benedetti, uma referência da literatura universal, poeta, ensaísta, prosador. Para quem ainda não teve oportunidade de conhecer seus textos, não deixe de ler o que Benedetti nos deixou como legado, porque vale a pena.
Sempre discreto, morreu em casa, entre os seus. A longa enfermidade que o levou à morte não impediu que, até o fim, continuasse escrevendo e viajando.
Mais sobre ele neste site.
Aqui, Saramago escreve o fino sobre o poeta morto.

sábado

TertúliaVirtual de maio

"Você irá passar 10 anos numa pequena ilha deserta no Pacífico, e só poderá levar cinco coisas.
Quais seriam?"

A postagem pode apenas nomear as cinco coisas ( pessoas inclusive), ou cinco imagens das coisas, ou ambos! Pensem bem, serão 10 anos. A ilha é deserta. Não tem energia elétrica, não recebe sinal de telemóvel ( celular ), TV, ou internet! Pensem bem!

1. meu amor








2. máquina de escrever com fitas e papel à beça






3. nécessaire com o necessário ( Ü ) e um canivete








4. a barraca de acampar com um ombrellone pra dar mais sombra






5. um barco pra passear e depois voltar.







Os outros participantes da Tertúlia estão aqui.

quarta-feira

Ahmadinejad e Foucault


Foto Amélia Pais.


A coluna de CONTARDO CALLIGARIS, na Folha de São Paulo de ontem, dia 12 de maio, fala da malfadada visita ao Brasil, que o presidente do Irã achou por bem adiar. E como Calligaris expressa em sua coluna exatamente o que eu penso – e acredito que muita gente pensa – sobre o assunto, acho oportuno divulgar seu texto:

"Ahmadinejad e Foucault

Temos a nostalgia permanente de uma coletividade em que poderíamos "descansar"

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, adiou sua visita ao Brasil.
Melhor assim. Ele é uma das figuras mais sinistras da praça política
mundial: uma encarnação do ódio assassino como solução para o fato de
que sempre há outros que vivem, pensam e sentem de uma maneira
diferente da nossa.
Há um problema no Oriente Médio? Simples, basta acabar com os judeus e
aniquilar o Estado de Israel. Isso lhe lembra algo que já aconteceu?
Não se preocupe: o genocídio é uma invenção sionista. Há iranianos que
pulam a cerca? Simples, basta massacrar as adúlteras, mesmo que tenham
sido estupradas. Há iranianos homossexuais? Eventualmente, "tinha" -
já não tem mais. E por aí vai, para todos os dissidentes, externos e
internos.
Ultimamente, em Genebra, quando Ahmadinejad falou, os diplomatas
ocidentais deixaram a sala. Os brasileiros apenas emitiram uma nota de
repúdio. Três razões:
1) O Irã é um bom comprador no Oriente Médio, e dinheiro não tem
cheiro. Discordo desse argumento neoliberal: o dinheiro tem cheiro,
sim, sobretudo quando vem numa mala de carniças.
2) Ahmadinejad extrapola porque está em campanha e se endereça à sua
base eleitoral. Quer dizer que ele se sustenta numa base que pensa
como ele? Pior ainda.
3) Campeão da coexistência de diferenças (étnicas, religiosas e
infelizmente econômicas), o Brasil pode ser um valioso mediador de
conflitos. Ótimo, mas o que significa mediar? Por uma limitação da
qual não quero me desfazer, eu não consigo ponderar os problemas do
mundo sem pensar nos indivíduos. E, conversando com Ahmadinejad, seria
assombrado pela visão de uma mulher tremendo de medo, num porão,
incapaz de invocar seu deus porque, segundo lhe ensinaram, ele está
inteiramente com um grupo de barbudos que, sentados no quarto de cima,
tomam chá e decidem quando ela será apedrejada. É um pensamento que me
dá nojo.
Reli os artigos que Michel Foucault escreveu para o "Corriere della
Sera", durante duas viagens ao Irã, em 1978, no começo da "Revolução"
Iraniana (em "Dits et Ecrits vol. 2, 1976-1983", Gallimard, e, em
inglês, "Foucault and the Iranian Revolution", University of Chicago).
Foucault me ensinou a enxergar a mão furtiva do poder, mesmo nas
sociedades aparentemente "livres". Como foi que ele escreveu uma
apologia entusiasta do que já prometia ser um regime totalitário como
poucos na história?
No sábado passado, neste espaço, Antônio Cicero também voltou a esses
escritos de Foucault -talvez inspirado pela visita iminente. Cicero
argumentou que o relativismo libertário (a ideia de que não temos o
direito de julgar regimes de verdade diferentes do nosso) levou
Foucault a defender um fundamentalismo que não reconhece nenhuma
verdade que não seja a dele. Concordo. O relativismo só faz sentido se
ele for uma exceção à sua própria regra: todos os regimes de verdade
são respeitáveis, salvo os que não respeitam a verdade dos outros.
Mas o que mais me impressionou, relendo Foucault, foi que, naquelas
viagens, ele não ouviu nenhuma voz de dissenso. Só percebeu a perfeita
unanimidade de um povo desejoso de se refundar "espiritualmente", além
de suas diferenças políticas. Talvez ele tenha saído de Paris já
decidido a encontrar, na "Revolução" Iraniana, o protótipo de uma nova
esperança coletiva.
Aparentemente, vale também para Foucault: sermos indivíduos é uma
tarefa árdua, que suscita a nostalgia permanente de uma coletividade
em que poderíamos, enfim, descansar. Algo assim: que venha a "vontade
geral" com a qual sonhava Rousseau e nos permita renunciar por um
tempo a nossas responsabilidades singulares!
Pois bem, Ahmadinejad nos lembra que a "vontade geral" se constrói
sempre sobre os cadáveres dos que não concordam.
Foucault achava que a psicanálise, levando-nos a falar sobre os
desejos sexuais, abre a porta para que o poder se insinue em nossa
vida privada. Pode ser, mas, para mim, o legado irrenunciável da
psicanálise é sobretudo a necessidade de pensar nas pessoas uma por
uma, sem ilusões e entusiasmos coletivos, ou seja, sem esquecer aquela
mulher que, no porão, ainda está esperando para saber a que horas será
apedrejada.
Presidente Lula, caso Ahmadinejad seja reeleito e venha ao Brasil, na
hora da foto oficial, peço-lhe, por favor, que o senhor pense nessa
mulher e se abstenha de sorrir."

ccalligari@uol.com.br

Como se pode ver, há muitas formas de escravidão pelo mundo.

E tantos anos depois da Abolição da Escravatura, que se comemora hoje em nosso país, ainda existe trabalho escravo no Brasil. Portanto, nada de "ilusões e entusiasmos coletivos", que não passam de purpurina jogada nos olhos da sociedade.


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Atenção: neste site você pode assinar pelo veto à proposta do senador Eduardo Azeredo.
Se ainda não conhece, leia o texto do jornalista Pedro Doria aí abaixo, e os motivos pelos quais esse projeto atenta contra a liberdade e o bom uso da internet em favor da difusão da cultura e do conhecimento.
Transcrevi parte do artigo de Doria, que encontrei no blog Fio de Ariadne.
A campanha pela petição online está sendo divulgada por gente boa como a Luma e a Vanessa. Plenamente a favor da campanha pelo veto, peço a vocês que levem em conta os argumentos e se juntem a nós.

***

A lei do senador Azeredo e o que ela faz da Internet - Pedro Doria.

"(...)

Não é a questão de discutir se é preciso uma lei para regulamentar os crimes online. É bem possível que seja – mas esta é uma discussão para juristas. Esta é ruim por motivos vários. Dois deles:

A lei cria o provedor que delata. Se uma gravadora, por exemplo, rastreia que um usuário ligado ao Speedy em São Paulo ou ao Vírtua em Maceió está usando a rede Bit Torrent, de troca de arquivos, ela pode ir à Justiça pedir a identidade do sujeito. Telefónica (do Speedy) ou Net (do Vírtua) são obrigados a dizer quem foi. Não importa que, muitas vezes, os arquivos trocados sejam legais. O fato é que todo provedor de acesso se verá obrigado a manter por três anos uma listagem de quem fez o quê e que lugares visitou na web. É como se os Correios mantivessem uma lista de todos os usuários de seu serviço e que indicasse com quem cada um se correspondeu neste período de anos. É coisa de Estado policial e uma franca violação da liberdade.

Outro problema da lei é a proibição de que se ‘obtenha dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida.’ Vai uma pena de 2 a 4 anos, mais multa. O objetivo, evidentemente, é proibir pirataria. Mas imagine-se a loucura de ter a necessidade de provar que está autorizado a carregar qualquer informação colhida na rede.

A rede é, essencialmente, uma máquina de cópias. Carregou esta página do Weblog? Há uma cópia dela em seu HD. Um CD comprado só permite seu uso em CD players. A não ser que Herbert Viana ou outro dos Paralamas o autorize expressamente, nada de passar para o iPod. O Google está digitalizando milhares de livros fora de catálogo. Muitos deles têm o detentor do copyright desconhecido. Se o dono aparecer, eles tiram da lista. Em caso contrário, fica público. No Brasil, se o substituto do senador Azeredo for aprovado, esta que será a maior biblioteca pública do mundo será ilegal. Esse artigo é tão mal escrito que, no fim das contas, proíbe o uso da Internet.

É evidente que, acaso vire lei, ninguém a obedecerá. Vai virar letra morta de nascença. Mas isto é um problema. Afinal, há crimes sendo cometidos na Internet que devem ser punidos. Além de ter sido mal redigida, a lei do senador Azeredo nasce mais preocupada em proteger os interesses de empresas estrangeiras da indústria do entretenimento do que em proteger cidadãos brasileiros vítimas de crimes na rede. Há uma petição online correndo para encaminhar aos senadores. (...)"

domingo

Muito amor, talvez flores e presentes

Finzinho do Dia das Mães.
Algumas casas estão assim:



Às vezes, uma flor sozinha é uma primavera de amor



E às vezes talvez nem haja uma flor.
Mas há tantas maneiras de se dizer "te amo"!



Flores, presentes, beijos, abraços, telefonemas.
Mãe de vários ou de um filho só, não importa muito.
Mãe adotiva, mãe por eleição, mãe pelo coração.

Tudo que mãe quer é se sentir presente na vida daqueles a quem ela deu a vida, moldou, ensinou como viver, acalentou, alimentou, cuidou. Daqueles para quem ela
foi porto seguro, amiga maior e incondicional, companheira, enfermeira, professora
e a quem ela salvou dos fantasmas embaixo da cama em noites muito escuras.

Tudo que mãe quer é poder um dia lembrar com ternura o calor daquele corpo
que crescia, as histórias na hora de dormir, os joelhos ralados, aulas de dança
e natação, as férias, os passeios e as reuniões chatíssimas na escola.

E um dia, mestres, médicos, doutores, executivos, funcionários ou simplesmente gente boa, capaz de ser também bons pais ou mães do jeito que ela foi, os filhos possam provar a ela que tudo valeu muito a pena.

Não se pode esquecer das mães que não têm tanta sorte. Tomara que tenha havido também alegria para elas neste domingo de maio.




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Gente, dá uma olhadinha aqui.
Há outros vídeos do tipo por perto, alguns bem hilários.

quarta-feira

Fim do dia


Foto Margarida Delgado.


Jorge Luís a encontrou diante da tevê, os cabelos molhados, envolvida num roupão branco, comendo uma panqueca de frango.
— Oba, saudou.
Cheirava a suor, um cheiro acre que ele mesmo sentia e o impedia de se aproximar.
— Também quero uma.
Ela esticou o dedo mínimo na direção da cozinha, sem desviar os olhos do programa.
— Então, foi tudo bem?
Marlene fez um sinal positivo com o polegar da mão livre. Estava rodeada de almofadas e um dos pés aparecia, moreno e rosado, de unhas nacaradas. Jorge Luís sumiu na direção do banheiro e pouco depois ela ouviu a água caindo do chuveiro. Não demorou. Antes de ir à cozinha ele voltou à sala e desligou a televisão. Tomou a mulher nos braços e se encaminhou com ela para o quarto. Ela não protestou: a entrevista estava mesmo terminada, sua fome satisfeita, a vida ganha, e agora subia de seu ventre a calidez que prenunciava as grandes noites.

(Trecho deComo se livrar de Glória.)

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Filosofando

Cada era tem a torre de Babel que merece, né não? A deste século se chama Twitter. Cada um sabe a dor e a delícia de viver seu tempo.

sábado

Evocação


Carmen Laffon. Still life with cupboard.


A tigela desbeiçada à beira do caminho, num resto de despacho – encruzilhada de alguma esperança – faz lembrar alguém, há tanto tempo, batendo um bolo para o lanche; um bolo batido à mão, colher de pau, os ingredientes honestamente espalhados na bancada da cozinha antiga, de chão revestido de ladrilhos hidráulicos bem gastos.

No meio da cozinha o lanche é uma festa, crianças sorrindo em volta da cesta de pãezinhos quentes, dourados, o café acabado de passar no bule esmaltado de azul, o bolo no centro da toalha muito alva, verdadeiro milagre, que chega a ser luminosa de tão branca. E ainda nem existia o sabão em pó.




Esses blogueiros queridos e seus selinhos maravilhosos



Presente da Nade, do blog Orgulho de Ser.
Obrigada, querida.
Vou repassar esse simpático selinho aos amigos que visitarem o Umbigo, com todo carinho e um beijo pra cada um.