domingo

Da Romênia

O projeto Enigma, idealizado pelo romeno radicado na Alemanha, Michael Cretu, veio para inovar o cenário musical. Quando surgiu, em dezembro de 1990, lançou o hit Sadness Part 1, sob a forma de Cantos Gregorianos na mixagem da música.
Sandra Cretu, casada com Michael, interpreta algumas músicas; também estão no grupo David Fairstein e Peterson Frank.
Artistas do gênero New Age, suas músicas costumam aparecer em matérias de jornais, documentários, filmes e comerciais. Sua música é mais conhecida que o projeto.

Enigma - Déjà Vu



Um glossário e uma "árvore genealógica" da música gótica podem ser encontrados aqui.
Pra mim foram muito úteis, porque até o momento ouvia cantar o galo sem saber exatamente de onde. Não me tornei fã incondicional da música New Wave, mas fui fisgada pelos cantos gregorianos que o Enigma trouxe às paradas.

Outro vídeo do Enigma, encontrado primeiro no blog português da amiga Laura, O rosto contra esta espada, que achei de grande beleza, se chama Je T'aime Till My Dying Day. Os comentários são de Michael Cretu.




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Aviso a meus queridíssimos sete leitores

Continuando a brincadeira (boa demais), "História incompleta" vai ganhando novas peças durante a semana. A gente se vê, né?

terça-feira

Mais um título para o multitítulos


Do site da Eliana Mora.




O mesmo e o outro

Pronto, lá está ele.
É mais um blog, mas não é mais um blog.
É um bloco, um caderno onde um texto novo vai crescendo.
Não tem data nem hora de postagem.
É às vezes, talvez todo dia, talvez de hora em hora.
Ao contrário dos outros, esse blog não existe ainda senão pra mim mesma.
Mas que conversinha besta, isso de querer pintar meios-tons num produto de natureza tão impessoal como uma página da web. Maybe. Mas e se a página da web virar uma tela, uma folha em branco na cabeça de quem a usa?

quinta-feira

Por que escrevo tanto blog?

As pessoas são uma fonte permanente de surpresas e as ideias não param de esvoaçar em minha cabeça como se fossem nuvens de cupins alados em torno das lâmpadas de setembro ou, dependendo do grau de frescura do momento, borboletas multicoloridas. Por outro lado, carrego um montão de dúvidas existenciais envoltas em nuvens de espanto; o mundo me assusta, atrai, encanta, maravilha e às vezes faz nojo, mais ou menos nessa ordem. Sou tarada por literatura, curto fotografia e imagens em geral, alguns filmes e músicas me fazem viajar, alguns seres com que entro em contato se tornam amigos de infância de uma hora para outra e as viagens, figurada e literalmente falando, me levam muito longe.

Não é tudo – ninguém consegue dizer tudo – mas essa mistureba de coisas, pensamentos e seres precisa de alguma forma de expressão. E como os acontecimentos são diferentes entre si, inesperados ou repetidos ou antigos, mas importantes demais para serem esquecidos, têm que ser expressos em textos diferentes. Daí que aparecem crônicas, contos, poemas e miscelâneas que não conseguem calar e não se sentem bem no clima da gaveta.

A ideia de fazer um blog veio de uma amiga – a Glória Horta, que parou de postar faz algum tempo. Foi assim que nasceu o Umbigo do Sonho, em 2003, no Blogger. Em 2005 o Blogger fechou todas as páginas que haviam atingido os 10Mb. O Umbigo migrou para o Movable Type, um provedor pago, até que ano passado o MT quebrou, e deixou os dois últimos usuários “a pé”, sem acesso aos posts que não tivessem sido becapeados. A salvação veio do Blogspot, que é do Blogger, agora bem mais aperfeiçoado e cheio de opções.

Além de veículo de divulgação, o blog oferece a vantagem imensa de um contato quase imediato com o leitor, e os comentários são um jeito maneiríssimo de tomar pé no próprio trabalho, sem falar nas amizades que se ganha e nos talentos que nunca ficaríamos conhecendo sem esse meio de comunicação.

Apesar de gostar (muito) de gente, sou um tipo enrustido, muito pouco pragmático. Desisti de publicar livros, ao menos por enquanto, por várias razões; a principal é que ninguém me ama, ninguém me quer em uma editora. Recebo muitas propostas dessas que levam o delas logo de entrada e depois deixam a tiragem esquecida, sem divulgação nem distribuição – ou seja, pensam nos próprios interesses e querem que o autor se exploda. Reconheço que devia ter vergonha de não correr atrás de um desejo tão verdadeiro, mas sou bicho de concha mesmo. Então faço blogs – cinco por enquanto. Mas penso na possibilidade de um e-folhetim, quem sabe, pra dar vazão à pilha da gaveta.

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Esta postagem faz parte da coletiva proposta pela Vanessa, que sempre tem ideias férteis e oportunas. Obrigada pela oportunidade de falar de um assunto que, parece, interessa a todos que escrevem nessas páginas simpáticas e tão populares atualmente.
Os blogs passam de cem milhões na rede, não é incrível?

segunda-feira

Sentir-se em casa


Paraty, construção antiga


Por conta da Tertúlia Virtual de junho

Será que todo mundo se sente “em casa” na própria casa?

Penso nas casas onde falta quase tudo, nessas casas de tábuas ou de taipa, no interior mais abandonado, onde se come e se dorme mal, sem qualquer conforto, onde a seca ou a enchente são motivos de pânico, porque os moradores sabem que podem perder o pouco que conseguiram. Onde o trabalho pesado e sem retorno, o frio ou o calor devastam os corpos. De onde às vezes é preciso migrar em busca de um clima onde se possa viver. Ou então nas casas de tijolos expostos das favelas de nossas cidades, sem esgoto, sem espaço, onde as ruas são muitas vezes escadarias de degraus desiguais e os ratos passeiam livremente. Onde se vive com medo do vizinho ou da polícia, que significam risco de perder alguém ou de perder a própria vida. Pontes e viadutos também podem servir de casas para famílias inteiras, que na certa não entendem “sentir-se em casa” do mesmo jeito que aqueles que moram entre paredes sólidas e contam com fechaduras de segurança e janelas herméticas para afastar o barulho e a sujeira das ruas.

Sei que “sentir-se em casa” evoca um número quase inesgotável de imagens bonitas, doces, românticas e cálidas. É estar no quarto, em repouso, diante do programa predileto da tevê ou vendo um bom filme, lendo um livro escolhido; é estar na casa do amigo querido, bem recebido, embalado por uma conversa alegre, descontraída, tomando um bom vinho; é estar nos braços de quem se ama, o coração livre, solto para expressar e receber amor. É reunir a família em torno da mesa, trocar as impressões do dia, dar boas notícias, ouvir a piada mais divertida da semana, curtir os filhos, os netos, estar satisfeito com o que realizou na vida. Esse é um tipo de alegria muito lícita, uma felicidade que todo ser humano mereceria viver. E no entanto, não é dada a muitos, talvez apenas a uma minoria. Em parte porque os bens materiais não garantem que alguém se sinta “em casa”, às vezes é o contrário: muito dinheiro pode ser motivo de ansiedade, medo e desconfiança, discórdia na família e traições entre os associados. E em parte, porque mesmo possuindo todo o necessário, há pessoas que simplesmente não conseguem relaxar, e nunca conseguem se sentir em casa. Nem mesmo... em casa.

No entanto, nem todos os desfavorecidos da fortuna são infelizes. Há pessoas extremamente pobres, que dão um duro desmedido e vivem como se diz “da mão para a boca”, mas têm alegria, conseguem agregar uma família, têm um círculo estável de amigos. Não parecem sentir-se aterrorizados pelo futuro incerto. São estimados no trabalho, riem com facilidade, interessam-se pelos outros, têm bom humor. Estão longe da segurança econômica ou do conforto físico. Mas constroem seu ambiente de modo acolhedor, inventam jeitos de driblar a carência, gostam do pouco que possuem e tiram o melhor proveito possível de todas as oportunidades. Eu diria que eles se sentem “em casa” no mundo.

Acho que é nisso que os seres humanos mais se aproximam, não importa se ricos, pobres ou remediados: sentir-se em casa no mundo. É isso que pode conferir algum carisma, que torna uma pessoa capaz de despertar sentimentos de amor, amizade ou simpatia. A boa notícia é que isso também se aprende. Para começar, aprender a relaxar fisicamente, para que o bem-estar possa vir à flor da pele. Feito isso, olhar as pessoas com vontade de compreendê-las, conversar, querer o melhor para si e para os outros.

Frequentemente, essa abertura para o que e quem está a nossa volta traz à tona um talento escondido, uma criatividade de que não se suspeitava. Quem disse que uma pessoa não pode mudar, não sabe nada sobre as pessoas. E quase sempre é preciso mudar, pouco ou muito, para chegar a sentir-se verdadeiramente "em casa".

domingo

Do diário de meu tio

Passei em frente à casa de Marina. Gosto de ver aquela casa, tem um jeito que chama a gente. O jeito de Marina. Entrei lá duas ou três vezes, joguei botão com o irmão dela que mudou pra Recife e uma vez tomei lanche com eles. Depois de terminar o namoro com Marina às vezes passava lá, na esperança de vê-la na varanda como naquele dia, e contra toda lógica teimo em pensar que isso seria como um sinal de que tudo podia recomeçar.
O cheiro que vinha da casa era uma viagem. Pão doce, cheiro de pão doce fresquinho, novo, dourado. Imaginei a mesa posta, o aipim desmanchando na boca, a manteiga derretida por cima e aquela cobertura morena de canela e açúcar. Pãozinho francês estalando dentro da cesta de vime com o paninho de crochê de bico, branquinho e engomado de leve. A manteigueira, o açucareiro, o bule do café e a leiteira do jogo branco e azul. Os queijos, sempre três ou quatro, o presunto rosado e tenrinho, o requeijão cremoso, fresco, delicioso. O pote do mel de laranjeira, e na tigela branca os sequilhos, biscoitinhos de nata, ao lado do vidro bojudo das torradas e do outro, da geléia. Três ou quatro sucos naturais, um doce de goiaba, outro de leite; o bolo de milho no prato de pé.
Altíssimo astral junto à janela de vidro aberta para o pôr-do-sol e as montanhas azuladas. A mesa coberta pela toalha leve de xadrez miudinho e claro, recendendo a capim-cheiroso; os guardanapos bordados de florinhas e as xícaras azuis.
(Silêncio reverente, suspiro calado, profundo mergulho no âmago do ser.)
As margaridas no canteiro da cerca lá fora e gerânios na jardineira sobre o muro que esconde a área de serviço.
Daria muito por esse momento. Mas não fico muito tempo diante da casa. Tenho medo de que meu desejo se realize e ela apareça na varanda, caso em que eu seria bem capaz de perder a cabeça e voltar com ela, mesmo sabendo o que viria depois. Porque é verdade que seria capaz de dar quase tudo por esse momento – menos a liberdade.

Imagem James Tissot. A despedida. 1871.

quarta-feira

Da série pensamentos desgarrados



Picasso. Três mulheres.


No harém, as esposas mais tristes devem ser a segunda e a terceira.
Se a favorita for implicante então, tadinhas, a vida delas deve ser um inferno.
As outras, sem maiores compromissos, devem se divertir muito.


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Inscrições, o blog de poemas, ganhou da Leonor Cordeiro esse selinho bonito e supersimpático, que vai aparecer lá na próxima postagem. Leonor, que já é uma amiga, uma pessoa gentil e generosa, me incluiu numa lista de feras da poesia, podem conferir. Beijo pra você, querida.


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Nova ortografia

Aqui você tira suas dúvidas.