quarta-feira

Será verdade o que dizem por aí?


Fuessli. Silêncio.


A gente aqui na pátria amada acaba encarando tudo que se repete, por pior que seja, com uma naturalidade assustadora. O crime, a estupidez e a violência – meu Deus do céu, que chatice falar nisso tudo. Miséria, falta de escolas, vida de biscateiro, mulher que apanha e fica calada, crianças que passam o dia entregues a si mesmas e à maldade alheia, porque o pai não está nem aí, a mãe diarista tem que ganhar o dia ou então ninguém come – tudo é encarado como natural. Ou as carências tantas, que não sobra tempo e muito menos energia para reagir. E reagir como, onde? Apelar pra quem?
É difícil entender como pessoas que crescem e se tornam adultas vendo o mundo desse jeito conseguem se tornar gente de bem. No entanto muitos se tornam cidadãos úteis, que trabalham, lutam, correm atrás. No caminho desses, por pior que fosse, deve ter havido, em algum momento, alguém capaz de carinho, algum incentivo que mostrasse uma vida menos desprezível.
A educação continua na base do processo. É demorado, leva anos pra dar resultado. Mas sem ela podemos desistir de melhorar. Nem daqui a cinquenta ou cem anos. Então esse primeiro passo tem que ser dado, mas não só. A questão educacional é uma aposta no futuro, uma ponte que teria que começar a ser construída agora, já que quase tudo que vem sendo feito está dando errado, a começar pelas fatias vergonhosamente baixas do orçamento alocadas a esse setor.
Será mesmo que interessa a nossas autoridades manter as pessoas deseducadas, mal instruídas? Será essa a democracia que merecemos?

8 comentários:

Halem Souza disse...

Dade, primeiro uma observação frívola: foi ideia sua essa do texto em dois tamanhos diferentes ou foi acidental? Porque gostei do efeito e acho que vou fazer o mesmo em algumas postagens.

Segundo, tenho que tomar cuidado ao falar de educação... Fico nervoso, troco os pés pelas mãos, e acabo irritando os outros e ofendendo quem não merece.

Trabalho há bastante tempo em escolas públicas - faço questão de repetir PÚBLICAS - , familiarizado com todas as mazelas que as caracterizam.

A educação é a base do processo? Não sei não. A cada dia vejo que a escola está se tornando uma instituição obsoleta, quase inútil. Mas talvez você esteja falando de educação em sentido amplo, e não apenas no que se refere à escolarização.

Os orçamentos para o setor são baixos? São. Mas acho que o buraco é mais embaixo. Vejo um monte de "gente de bem" defendendo a educação. Pergunto: os filhos dessa gente estão matriculados em escolas públicas? Vejo marcha defendendo a descriminalização da maconha, feita por um monte de boyzinhos e patricinhas cheios da grana. Mas não vejo movimento algum da sociedade - marcha ou o que for - em defesa da escola pública. E falo da escola pública, porque, segundo a PNAD/IBGE, mais de 80% da população brasileira em idade escolar frequenta é esse tipo de instituição.

Há muita panaceia em torno da Educação e pouca ação militante por parte do restante da sociedade (e não apenas dos intimidados e acuados professores), já que, como você diz, "a questão educacional é uma aposta no futuro. Como toda utopia, aliás.

Dade, desculpe pelo comentário extenso (e talvez até agressivo). Mas falar de educação é algo que mexe profundamente comigo, até porque trabalho com isso. E quase sempre é um trabalho frustrante e desgastante.

Um abraço e mais uma vez perdão.

dade amorim disse...

Você não tem que se desculpar, Halem. Primeiro porque só pode ser positivo conhecer opiniões divergentes da que se expõe, e depois porque você tem muito mais experiência do assunto do que eu, que fui professora durante somente cinco anos e há bastante tempo. Numa coisa a gente concorda plenamente: é frustrante e desgastante ser porfessor, seja da rede pública ou da particular, cada qual por motivos diversos mas difíceis de contornar.
Abração e disponha, viu?

Regina disse...

Assunto que faz vibrar a indignação de quem conhece os problemas da escola, pública ou particular, porque em ambos os casos esses problemas são praticamente insolúveis, embora de ordens bem diferentes. Concordo com você, inteiramente, e só não vou mais longe porque já cansei dessa história.
Beijos.

Unknown disse...

Ótimo!

A educação tem e precisa ser prioridade em qualquer governo. Não falo só de escolas, mas um povo educado, se alimenta melhor, precisa menos de hospitais e a sociedade só lucra. Junto a isto, tentar diminuir ao máximo a população. Não há diretrizes educacionais que consigam manter um nível médio com uma população enorme.

Excelente!

Beijos

Mirze

Lua Nova disse...

Não, de fato, não é a democracia que merecemos e jamais será se a ecucação não se tornar prioridade urgentemente.
Meus filhos estudaram em escolas públicas e confesso que não foi por patriotismo ou por convicção, mas pq não tive condições de colocá-los em escolas particulares. Conheço bem os problemas da escola pública e o esforço que a maioria do corpo docente faz para manter a máquina funcionando. A sociedade deveria mover-se para exigir mudanças radicais e verdadeiras que dessem às nossas crianças a formação acadêmica que os transformasse em verdadeiros cidadãos. Mas talvez essa seja uma utopia e isso me faz muito triste.
Beijos, Dade, e um fds perfeito pra vc.

dade amorim disse...

A gente cansa, mesmo, Regina. De tanto chover no molhado, de tanto repetir em vão e não ver retorno nas reivindicações mais justas.
Um beijo.

dade amorim disse...

Essa questão da população enorme é de amargar, não tanto pela quantidade, mas pela qualidade de vida desse povo, especialmente os que têm mais filhos.
Beijo, Mirze.

dade amorim disse...

Nossa população parece achar normal esse estado de coisas, Lua Nova, e isso é uma bola de neve - quanto menos educação, mais indiferença e menos ação para mudar as coisas.
Beijos.