terça-feira

Literatura


Estante. Serigrafia de Sônia Menna Barreto.


Literatura é um pequeno abismo portátil onde a gente se joga de vez em quando e que vicia mais que qualquer droga. Às vezes, dependendo do regime de governo, pode ser até proibida. Serve para viver a fundo as coisas em que uma pessoa sensata não mergulharia, ou porque são repulsivas, ou porque não têm importância nenhuma de ordem prática.

É mais fácil dizer o que a literatura não é: não é útil, não dá dindim, não é pragmática, nem lógica nem relaxa ninguém. E ainda por cima às vezes tira o sono. Para o senso comum, literatura é coisa de maluco mesmo.

Mas quem precisa do senso comum? Para quem escreve, ela é fonte de alguma coisa que fica entre a alegria, o consolo, o alívio, a autoafirmação, o bem-estar do espírito, o refrigério do intelecto e a inefabilidade. Com o tempo, quase a satisfação de uma necessidade orgânica. Sem falar no prazer que é ver um livro publicado, lido e comentado. Mesmo que o escritor faça aquela cara de modesto (é mentira, nenhum escritor é modesto), ele estará se sentindo orgulhoso de sua obra, feliz de ver aquele filho de papel e tinta multiplicado, circulando nas mãos de amigos e estranhos. Para ele, cada exemplar é O Livro. Ou, como diria Cortázar, todos os livros, o livro.

Estou terminando o livro da Fal, Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. Por enquanto, só dá pra dizer o que todo mundo já sabia: a Fal é inefável.



Valeu, Lu


A Lu, do Glossolalia, lembra, com muita propriedade, que nem tudo é festa, mesmo (ou principalmente) num dia dedicado à mulher. O texto dela traduz exatamente o que se pensa e sente, diante de episódios como o da menina de nove anos que teve que abortar e dos sinistros personagens reais que povoam essa aberração - a família, a igreja que já não merece mais letra maiúscula, de tão degradada que está, a justiça, que na certa terá que proteger o pobrezinho do padastro pedófilo, o público que ouve essa notícia como se fosse a coisa mais natural do mundo.

21 comentários:

Jens disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jens disse...

Adelaide, você não cessa de me surpreender, sempre positivamente. Estou nada menos do que embevecido com a tua definição e declaração de amor à literatura. Desconfio que você seja uma feiticeira, que seduz e enfeitiça através das palavras. De minha parte, sou cativo irremediável da tua prosa.
Um beijo.
(Quem removeu o comentário aí de cima fui eu. Probleminha de revisão).

dade amorim disse...

Jens, esse minino, isso é que você ainda não me viu misturando letrinhas no caldeirão :))
Beijo procê também.

Carol Timm disse...

Adade,

Não é falta de tempo, nem excesso de literatura (pelo menos da minha parte) que adia o nosso segundo encontro. É excesso de atividades concomitantes e urgentes. Aliás, na minha vida, tudo tem sido tão urgente, ultimamente, que ainda ficam umas urgências para trás...

É urgente ser feliz, é urgente ver os amigos e bem urgente voltar a ler meus livros, alguns já tão queridos...

Se a gente não marcar logo esse encontro, é urgente que eu explique melhor tudo isso. Mas acho que preciso desse encontro para essas explicações... (rs...)

Também amei este teu texto de amor a literatura e a foto da estante já não sei mais, se é um sonho ou desejo meu, muito antigo...

Beijos,
Carol

king of pain disse...

Olhe, não é que tira o sono mesmo? E como eu sempre digo: aquele pessoal que mandava queimar livros não era bobo, não.
Beijocas!

Flor da palavra disse...

Olá!
Vim lhe convidar para que conheça o meu trabalho de pintura em camisetas!
Até
http://ramasppfp.sites.uol.com.br/pinturaemcamisetas.htm

dade amorim disse...

Carol, te ligo então, feito?
Beijo

dade amorim disse...

Não é não, King? Só que essa turma prefere o poder (na mão deles, of course).
Beijo!

Anônimo disse...

Aquele filme "O Nome da Rosa" tem uma boa tradução sobre a literatura e suas dificuldades de aceitação. Juntamente com a opinião da igreja sobre a informação e sabedoria, nos outros... não neles. Vc viu esse filme?

bjss

dade amorim disse...

Um grande filme que fez justiça ao grande livro que o inspirou.
Beijo, Vanessa.

r a c h e l disse...

Olhe que assim parece até que você tá participando desta turma do terapia, hehe.

Beijoca, querida!

Cris disse...

Adelaide...

Literatura vicia sim, graças a Deus . Estou trocando a complusão de comer pela de ler... Boa troca, não?

Beijo, querida.

dade amorim disse...

Ah, então temos uma nova sessão de terapia? Que legal! Um beijo, Rachel, e sucesso pra vocês.


Cris, gostei de saber disso!
Um grande beijo pra você.

Anônimo disse...

E para o leitor, é fundamental, proporcionando viagens, reconhecimento, divertimento e também horas sem sono. Útil? Não no sentido monetário, mas de viver.

dade amorim disse...

Tem razão, Lino! Andava com saudade de você. Beijo.

Aninha Pontes disse...

Acredito nessa paixão por um filho como o livro.
Mesmo porque acho que qualquer criação nos dê a mesma sensação.
Ler é como fazer uma grande faxina em todo o corpo, e claro, o resultado acaba por premiar a alma.
Um beijo

dade amorim disse...

E você conhece de perto essa paixão, né Aninha?
Beijo.

livia soares disse...

Olá.
Gostei muito do seu blog, voltarei para ler com mais calma.
Grata pelas visitas simpáticas e pelo estímulo.
Um abraço.

dade amorim disse...

A simpatia é um de seus traços marcantes, Lívia. Beijo.

Melissa disse...

Oba, vem livro fresquinho por aí!
:) Um beijo, Adelaide!

dade amorim disse...

Oi, Mel! Fica tudo mais doce quando você vem aqui ;)