Literatura é um pequeno abismo portátil onde a gente se joga de vez em quando e que vicia mais que qualquer droga. Às vezes, dependendo do regime de governo, pode ser até proibida. Serve para viver a fundo as coisas em que uma pessoa sensata não mergulharia, ou porque são repulsivas, ou porque não têm importância nenhuma de ordem prática.
É mais fácil dizer o que a literatura não é: não é útil, não dá dindim, não é pragmática, nem lógica nem relaxa ninguém. E ainda por cima às vezes tira o sono. Para o senso comum, literatura é coisa de maluco mesmo.
Mas quem precisa do senso comum? Para quem escreve, ela é fonte de alguma coisa que fica entre a alegria, o consolo, o alívio, a autoafirmação, o bem-estar do espírito, o refrigério do intelecto e a inefabilidade. Com o tempo, quase a satisfação de uma necessidade orgânica. Sem falar no prazer que é ver um livro publicado, lido e comentado. Mesmo que o escritor faça aquela cara de modesto (é mentira, nenhum escritor é modesto), ele estará se sentindo orgulhoso de sua obra, feliz de ver aquele filho de papel e tinta multiplicado, circulando nas mãos de amigos e estranhos. Para ele, cada exemplar é O Livro. Ou, como diria Cortázar, todos os livros, o livro.
Estou terminando o livro da Fal, Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. Por enquanto, só dá pra dizer o que todo mundo já sabia: a Fal é inefável.
Valeu, Lu
A Lu, do Glossolalia, lembra, com muita propriedade, que nem tudo é festa, mesmo (ou principalmente) num dia dedicado à mulher. O texto dela traduz exatamente o que se pensa e sente, diante de episódios como o da menina de nove anos que teve que abortar e dos sinistros personagens reais que povoam essa aberração - a família, a igreja que já não merece mais letra maiúscula, de tão degradada que está, a justiça, que na certa terá que proteger o pobrezinho do padastro pedófilo, o público que ouve essa notícia como se fosse a coisa mais natural do mundo.
21 comentários:
Adelaide, você não cessa de me surpreender, sempre positivamente. Estou nada menos do que embevecido com a tua definição e declaração de amor à literatura. Desconfio que você seja uma feiticeira, que seduz e enfeitiça através das palavras. De minha parte, sou cativo irremediável da tua prosa.
Um beijo.
(Quem removeu o comentário aí de cima fui eu. Probleminha de revisão).
Jens, esse minino, isso é que você ainda não me viu misturando letrinhas no caldeirão :))
Beijo procê também.
Adade,
Não é falta de tempo, nem excesso de literatura (pelo menos da minha parte) que adia o nosso segundo encontro. É excesso de atividades concomitantes e urgentes. Aliás, na minha vida, tudo tem sido tão urgente, ultimamente, que ainda ficam umas urgências para trás...
É urgente ser feliz, é urgente ver os amigos e bem urgente voltar a ler meus livros, alguns já tão queridos...
Se a gente não marcar logo esse encontro, é urgente que eu explique melhor tudo isso. Mas acho que preciso desse encontro para essas explicações... (rs...)
Também amei este teu texto de amor a literatura e a foto da estante já não sei mais, se é um sonho ou desejo meu, muito antigo...
Beijos,
Carol
Olhe, não é que tira o sono mesmo? E como eu sempre digo: aquele pessoal que mandava queimar livros não era bobo, não.
Beijocas!
Olá!
Vim lhe convidar para que conheça o meu trabalho de pintura em camisetas!
Até
http://ramasppfp.sites.uol.com.br/pinturaemcamisetas.htm
Carol, te ligo então, feito?
Beijo
Não é não, King? Só que essa turma prefere o poder (na mão deles, of course).
Beijo!
Aquele filme "O Nome da Rosa" tem uma boa tradução sobre a literatura e suas dificuldades de aceitação. Juntamente com a opinião da igreja sobre a informação e sabedoria, nos outros... não neles. Vc viu esse filme?
bjss
Um grande filme que fez justiça ao grande livro que o inspirou.
Beijo, Vanessa.
Olhe que assim parece até que você tá participando desta turma do terapia, hehe.
Beijoca, querida!
Adelaide...
Literatura vicia sim, graças a Deus . Estou trocando a complusão de comer pela de ler... Boa troca, não?
Beijo, querida.
Ah, então temos uma nova sessão de terapia? Que legal! Um beijo, Rachel, e sucesso pra vocês.
Cris, gostei de saber disso!
Um grande beijo pra você.
E para o leitor, é fundamental, proporcionando viagens, reconhecimento, divertimento e também horas sem sono. Útil? Não no sentido monetário, mas de viver.
Tem razão, Lino! Andava com saudade de você. Beijo.
Acredito nessa paixão por um filho como o livro.
Mesmo porque acho que qualquer criação nos dê a mesma sensação.
Ler é como fazer uma grande faxina em todo o corpo, e claro, o resultado acaba por premiar a alma.
Um beijo
E você conhece de perto essa paixão, né Aninha?
Beijo.
Olá.
Gostei muito do seu blog, voltarei para ler com mais calma.
Grata pelas visitas simpáticas e pelo estímulo.
Um abraço.
A simpatia é um de seus traços marcantes, Lívia. Beijo.
Oba, vem livro fresquinho por aí!
:) Um beijo, Adelaide!
Oi, Mel! Fica tudo mais doce quando você vem aqui ;)
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