domingo

Ser ou não ser, eis o mosaico

Texto participante da blogagem coletiva proposta pela Elaine Gaspareto.




Quem pode dizer que está inocente do que acontece a sua volta? Não me atrevo. Nem mesmo posso ter certeza do grau de participação que me cabe em cada acontecimento. Mas que cada um joga seu dadinho nessa grande roleta que é a vida, isso joga sim. Nem me venham dizer que fui a única culpada de tudo que aconteceu a mim ou aos mais próximos, mas é mais que provável que, mesmo sem ter consciência disso, eu tenha atrapalhado a vida de alguém ou dado um empurrãozinho em quem já estava com o pé do lado de fora da janela.

É estranho olhar a vida por esse prisma. É como olhar o mundo através desses cristais facetados, em que as imagens se repetem e multiplicam em ângulos diferentes, cores alteradas, e deixam quem olha fascinado com a diversidade de formas, querendo dar conta de todas elas. É como ver de perto as imagens de Vic Muniz, composições de milhares de imagens mínimas que se perdem na visão de conjunto de cada quadro.

Mas, assim como cada um de meus semelhantes, eu sou um mosaico. Minhas escolhas envolvem fatores e condições que não estavam previstas ou não poderiam ser bem avaliadas antes de se tornarem uma contingência ao vivo.

Quantas vezes quis alguma coisa que deu em outra, errada ou não. Quantas outras vezes acertei em cheio sem querer muito, tateando um pouco no escuro, indecisa quanto ao lado a seguir. Amei alguém que poderia ter sido tudo, e encontrei outro que efetivamente foi tudo. Detestei pessoas que hoje seriam indiferentes e não tiveram qualquer peso em minha vida. Amei gente que não merecia, sofri por causas que não eram minhas, falei mal de pessoas que não eram más, prestei homenagem a quem não valia a pena.

Mas como o que se faz da vida não pode ser o que a vida faz da gente, insisto em ser sujeito de minhas decisões e seguir os rumos que prefiro. Tento amar muito, não sei se sou capaz de querer tanto bem quanto imagino. Tento me realizar no trabalho, mas ainda não encontrei os instrumentos certos – e pior, talvez nas cavernas onde ainda não consegui jogar luz, não queira encontrar. É preciso lidar com as próprias resistências e a idealização, ninguém vive sem elas. Então, se eu disser que sou cem por cento alguma coisa, estarei na certa mentindo. E se quiser aparecer com cara de anjo, vou motivar as pessoas a procurar meus cascos de coisa ruim. É da sabedoria popular: ninguém acredita em auto-elogio. O povo sabe das coisas.

16 comentários:

Elaine Gaspareto disse...

Dade,
Muito obrigada por aderir e dividir comigo um pouco de você.
Beijos.

Beti Timm disse...

Dade, perfeita tuas conclusões. Estamos na vida, para acertar, errar, ser magoada, magoar, amar, ser amada outras só amar. Para isso acordamos todos os dias, para viver e quase morrer acada dia.

Beijinhos

Jens disse...

Oi Adelaide.
É possível perceber que a mulher que te olha do outro lado do espelho não é uma estranha. Autoconhecimento assim, sem ceder à tentação do autoglamour, exige maturidade aliada à sabedoria. Espero um dia chegar lá. Parabéns pra você.

Um beijo.

Nade T. disse...

Só consigo ver uma coisa nessas palavras: sabedoria! Dade, querida, conhecer-se é maturidade, experiência acumulada...
Bjs, querida, e belíssima a sua participação na Blogagem da Elaine!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

As cavernas sao aquelas que muitas das vezes nos deixam desanimadas ou nos empurram para frente.

Abracos

dade amorim disse...

Adorei a ideia e a experiência, Elaine. E tudo de bom pra você.

dade amorim disse...

É isso, Beti. Vou ler sua postagem já, já. Beijo.

dade amorim disse...

Jens, você sempre é tão generoso em seu comentário que até me encabulo um pouquinho. =>

Beso.

dade amorim disse...

Obrigadíssima, Nade. Uma alegria te ver aqui.
Beijo beijo

dade amorim disse...

Pois é, Georgia. Contingências da vida de cada um ;>
Beijo grande e carinho.

. disse...

Bela carta...se vê de longe que os conselhos são de uma mulher madura nos sentimentos e que se conhece muito bem
Beijos

Luciano A. Santos disse...

Este trecho diz tudo:

"Mas como o que se faz da vida não pode ser o que a vida faz da gente, insisto em ser sujeito de minhas decisões e seguir os rumos que prefiro."

Belíssimo post. Abraços.

dade amorim disse...

Hmm, João-Olavo, obrigada, viu?
Beijo pra você.

dade amorim disse...

É esse o espírito da coisa, Luciano.
Alegre de ter você por aqui.
Beijo.

A Madrasta Má disse...

è tão bom qdo acertamos sem querer né! Bjinhos da Madrasta!

dade amorim disse...

É mesmo, querida, e as vezes acontece.
Beijo!