sábado

Tempo trançado














Às vezes, quando o passado se trança com o presente, as coisas se complicam e nosso tempo acaba ficando assim, meio em tiras, o perdido e o ganho convivendo em uma paz aparente que a qualquer momento pode se esfarelar e fazer desandar a vida.



atrás da porta do armário
numa sacola de camurça
ruça
deixo ficar os dias
que se recusam a virar passado

as pétalas e
as cartas sem resposta
um dia se esfarelam sem aviso
mas há desejos de longa duração
amores refugados
e algumas alegrias
dessas que os poetas antigos chamavam peregrinas
que não se quer esquecer

quem disse que só temos
o presente?
ou dito de outro modo
talvez nosso presente seja
exatamente
uma sacola velha de camurça

19 comentários:

Amélia disse...

Muito boa a reflexão e o poema que lhe dá continuidade e forma. Beijo e bom domingo/semana!

Melissa disse...

Adelaide, sei exatamente o que nos faz o passado quando teima em visitar o presente... Pior ainda é quando se torna aquela visita indesejada, que não tem hora para ir embora...
Hoje experimento olhar para o hoje apenas. O passado não tem o direito de trazer as minhas dores de volta. E faço o possível para que não se faça presente por muito tempo...
Reflexões...

Beijos e boa tarde! Um bom início de semana!

Anônimo disse...

Que lindo, Dade! Creio que cada um de nós tem a sua sacolinha de camurça, cheia de nossas pequeninas "eternidades" essas pessoas, fatos e sonhos que preservamos para sempre.

Como gosto de te ler!!!

Beijos mil

Ariadna

dade amorim disse...

Mestra Amélia, um comentário seu é um presente que sempre me deixa muito contente.
Beijos e uma ótima semana.

dade amorim disse...

Mel querida, faz muito bem em colocar o passado em seu devido lugar.
Espero que sua semana seja das mais felizes.
Um beijo grande.

dade amorim disse...

Obrigada, Ariadna. Fico toda contente quando você vem nos visitar e deixa um comentário sempre tão carinhoso.
Boa semana.
Beijo beijo.

Compondo o olhar ... disse...

lindo, amei!!! aiaiaiai, e estas sacolinhas nos perseguem....rsrsrsrsrs...

amiga tem selinho p vc no componho, passa lá p pegá-lo.

bjocas

Jens disse...

PQP, Adelaide, que baita poema! Esta é uma daquelas composições que Tolstói chamaria de universal. Duca!!!
***
A minha sacola de camurça são duas caixas de sapatos abarrotadas de quinquilharias emocionais "que se recusam a virar passado".
***
Um beijo. Sorry, pela entusiasmo um tanto malcriado. Vou passar pimenta vermelha na língua pra não dizer mais palavrão.

dade amorim disse...

Obrigada, Elaine. Vou lá no Compondo o Olhar já, já.
Beijo>

dade amorim disse...

Jens, isso é palavrão do bem, e aí pode :) Beijo pra você.

Adriana Riess Karnal disse...

DaDE,
PODE SER QUE ELE SEJA UM SACOLA DE CAMURÇCA APENAS, MAS O QUE SERÁ Q HÁ LÁ DENTRO,VAI SABER???
( desculpa, agora q vi q foi tudo em miúscula)

dade amorim disse...

É verdade, Adriana - cada sacola é propriedade particularíssima de seu dono.
Um beijo e uma boa semana.

Nanda disse...

Dade, numa dessas mágicas da blogosfera, publiquei ontem uma tirinha de Ziggy , em que ele fala que a gente deve valorizar mais o presente, pois é o que temos. Mas eu sou pra lá de nostálgica; então, cada um que seja feliz no seu tempo! Beijos!

dade amorim disse...

O risco que a gente corre é de que o tempo engula a gente. Mas ele engole de qualquer jeito, Nanda. So, relax.
Beijo beijo.

Marco disse...

Que bonito...
Eu gosto de textos que falam de reminiscências (não sei se você já reparou...).
É bom pegar nossas sacolinhas e retirar as coisas mágicas que elas guardam.
Te esperei lá na Bienal. Pena que não deu para você ir.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

dade amorim disse...

Vou lá conversar com você, Marco amigo. Ouvi falar que seu post está uma delícia.
Beijo e até já.

dade amorim disse...

Oi, Dri! Adorei o humor de seu blog.
Beijo e seja bem-vinda.

Muadiê Maria disse...

linda poesia.

dade amorim disse...

Obrigada, Maria.