segunda-feira

Particularidades do umbigo




O termo umbigo já deu muito pano pra mangas, sobretudo depois que Sigmund Freud, em sua Interpretação dos sonhos, descreveu o que ele chamou de “o umbigo do sonho” – o momento do não-sentido, quando a história ou a imagem sonhada perde o pé da verossimilhança e abre espaço ao desconhecido, estranho e espantoso ambiente que nem o dito Freud conseguiu explicar: o inconsciente. Papai Sig já prestou um serviço inestimável ao mundo e à ciência com a descoberta de que a ele, o inconsciente, pode ser creditada uma legião de fenômenos e acontecimentos que de outra forma teriam que ser atribuídos (e ainda o são, apesar de tudo) a encostos, atuações, magia e outras fantasias que vêm ocupando corações e mentes e enchendo os bolsos de tantos semelhantes nossos pelos séculos afora.

Esse é o sentido mais rico da palavra, porque deixa entrever alguma coisa de que ainda não se ouvira falar de modo tão direto e que, se não serve como sumidouro de problemas ou panaceia para todos os males do espírito – e até do corpo –, ao menos sinaliza que o essencial é muitas vezes (ou será sempre?) invisível para os olhos, como já lembrava o principezinho de Exupérry. A intenção aí era menos objetiva. Mas a citação fits, porque o Pequeno Príncipe é um livro basicamente escrito com a imaginação e o coração. Um doce pra quem responder de onde procedem essas duas instâncias, mensageiras notórias do desejo humano.

Já me disseram que escrever sob a égide do umbigo talvez não leve a bons textos, porque o termo alude a tudo que diz respeito ao narcisismo e um texto composto sob essa inspiração sempre se arrisca a ser vazio de interesse para eventuais leitores. Respondi que respeitava o ponto de vista, mas que esse umbigo vai bem além do meu próprio. Todo mundo é dotado de algum narcisismo, necessário ao bom desenvolvimento, que só prejudica se assumir proporções patológicas.

6 comentários:

Unknown disse...

Dade!

Um texto quase científico com sua excelência em esmiuçar palavras e sentidos. Ao meu ver, sendo no umbigo a marca da cicatriz do cordão umbilical que nos separou de nossa progenitora, penso que é aí que mora toda sensibilidade do ser humano. E se for verdade que no pós morte a mãe atravès de um fio de prata por aí se comunica, é também plausível.

O que sei é que em mim é um lufar sensibilíssimo, que guardo a sete chaves os segredos do que sinto.

Belíssimo!

Beijos

Mirze

dani carrara disse...

lindo. escolhi seguir esse blog - porque achei o nome poético.


aí por coincidência ou não. tive uma aula em que o professor na mesma semana (um psicanlista) citou algumas vezes esta expressão. e de forma tão poética e falando de poesia.


e agora taí. mto poesia.

bj

dade amorim disse...

Tem razão, Mirze, é um dos lugares mais sensíveis do corpo humano.
Beijo beijo.

dade amorim disse...

Dani, fico bem contente de ter você por aqui.
Beijo beijo.

mfc disse...

Deixando a cientificidade de lado e atentando na parte anatómica... é uma zona lindíssima do corpo da mulher!
Beijinhos... e um bonito umbigo!!

dade amorim disse...

Agradeço seus votos, mfc...
Beijinho.