Foto sem menção de autor.
Passei em frente à casa de Marina. Gosto
de ver aquela casa, tem um jeito que chama a gente. O jeito de Marina. Entrei
lá duas ou três vezes, joguei botão com o irmão dela que mudou pra Recife e uma
vez tomei lanche com eles. Depois de terminar o namoro com Marina às vezes
passava lá, na esperança de vê-la na varanda como naquele dia. Mesmo contra
toda lógica, teimo em pensar que isso seria como um sinal de que tudo podia
recomeçar.
O
cheiro que vinha da casa era uma viagem. Pão doce, cheiro de pão doce
fresquinho, novo, dourado. Imaginei a mesa posta, o aipim desmanchando na boca,
a manteiga derretida por cima e aquela cobertura morena de canela e açúcar.
Altíssimo astral junto à janela de vidro
aberta para o pôr-do-sol e as montanhas azuladas. A mesa coberta pela toalha
leve de xadrez miudinho e claro, recendendo a capim-cheiroso; os guardanapos
bordados de florinhas e as xícaras azuis.
(Silêncio reverente, suspiro calado,
profundo mergulho no âmago do ser.)
As margaridas no canteiro da cerca lá
fora e gerânios na jardineira sobre o muro que esconde a área de serviço.
Daria muito por
esse momento. Mas não fico muito tempo diante da casa. Tenho medo de que meu
desejo se realize e ela apareça na varanda, caso em que eu seria bem capaz de
perder a cabeça e voltar com ela, mesmo sabendo o que viria depois. Porque é
verdade que seria capaz de dar quase tudo por esse momento. Menos a liberdade.
6 comentários:
Há decisões que se tomam por uma vez... e não podemnos mais voltar atrás!
(Para nosso bem...)
Beijos.
Esse texto tem cor, cheiro e som. Tem também aquela ansiedade de matar curiosos: será que Marina vai aparecer?
Beijos
Liberdade não se dá. Liberdade se tem, se é, se conquista, se exercita.
Faz muito bem!
beijos :)
-Otimo, Dade!
Só que fiquei na mesa pensando no aipim. Não, rssr mdo é conhecido em alguns homens, que acham que perdem a liberdade ao lado de yma primma donna!
Nonsense.
Beijos
Mirze
A liberdade nem sempre é útil. Numa relação a dois, por exemplo, é necessário abrir mão de alguma liberdade, fazer cedências...
Belíssimo texto. Gostei muito, querida amiga.
Beijos.
Dade, você tem um talento pra nos aproximar das histórias. Consegui até sentir o cheiro dos pães. =) Beijos.
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