domingo
Adélia
Desde o primeiro livro de Adélia Prado, Bagagem (quem não leu queira ter o bom gosto de ler), me interesso em saber tudo sobre ela. A mídia e o mercado editorial tentaram rotulá-la como uma mística sensual. Adélia é as duas coisas, mas não há rótulo que dê conta de sua obra, de sua personalidade poderosa. Ela transborda, vai muito além e desmancha qualquer pretensão intelectualóide ou interesseira quando escreve ou começa a falar.
Primeiro, Adélia Prado é mística na medida do potencial humano, nada além. Sua fé está à flor da pele. Atinge as pessoas de um modo quase desconcertante pela qualidade cristalina que, longe de limitar sua atividade de escritora e sua postura pública, dá força e ilumina tudo que ela diz e faz. Sem proselitismo, sem pose de guru nem sombra de magia esotérica. Como a própria faz questão de deixar muito claro, “a transcendência está entre nós”. Não prega um paraíso futuro e problemático. Não tenta impingir nada: Adélia exerce suas convicções com a mesma naturalidade com que come, dorme, trabalha ou ama.
Acredito que chegar a esse ponto de pregnância se deve a alguns fatores que não percebemos de entrada, como a educação e a intensa experiência de vida familiar na infância; a formação filosófica (a que ela empresta pouca importância, mas que certamente pesou para que ela fosse quem é); a estrita fidelidade à busca da beleza e – talvez em conseqüência – uma forma de engajamento radical no dia-a-dia de que raras pessoas são capazes.
Em segundo lugar, a propalada sensualidade que Adélia expressa é, sim, sensualidade. E daí? Quem de nós, dotados de sexo, hormônios e desejos, desconhece a sensualidade e não a aprecia como um dos maiores prazeres da vida? Adélia dá graças a Deus por esse dom e não se envergonha de reconhecer sua prática. Quem pretendia fazer dela uma devassa religiosa, uma espécie de fetiche para vender mais livros, deve ter se frustrado de verde e amarelo, porque o amor celebrado em suas palavras é carnal e natural sem nunca deixar de ser amor – aquele que não polui o coração, não turva a serenidade nem violenta a dignidade do amante.
De Mário Quintana:
"Amor não é se envolver com a 'pessoa perfeita', aquela dos nossos sonhos. Não existem príncipes nem princesas. Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos. O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."
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11 comentários:
Parabéns! A análise que você faz de Adélia Prado é tão perfeita.... das melhores que já li. Emociona.
Beijos, carinho,
AdéliaTheresaCampos
Adelaide,
bela surpresa para um fim de domingo lê-la.
gosto da Adélia desde quando ela não era considerada poeta.
pelo menos, era o que me dizia um professor/poeta na universidade.
fiz meu trabalho de conclusão da primeira graduação sobre ela e Drummond, contra a vontade de outro professor, o Orientador (com 'o' maiúsculo mesmo...)
suas palavras no texto foram belas e sinceras.
beijo
Adade,
Adélia e Quintana no final de um domingo feliz é para desejar bons sonhos, não é?
Eu gosto de Adélia desde que assisti Dona Doida. Anos depois descobri a sua exuberante poesia.
Quintana, é um poeta de todas as horas... Amo ele!
Beijos, menina, que bom que voltou! Estava com muitas saudades...
PS: Será que nos vemos em breve?
Essa foto do Quintana está muito fofa.
O amor é gostoso assim como o Quintana diz, quando a pessoa amada consegue tirar da gente o que temos de melhor..
bjs
Obrigada, Adélia. É uma alegria ver você por aqui. Um beijo.
Também sou fã de Adélia desde o começo, Marcílio. Belo comentário você fez, obrigada por ele. Beijo e boa semana.
Carol querida, quem sabe nesta semana? Acho que vai dar, e você?
Beijo.
Quintana é um poeta delicioso, um mestre dos afetos. Beijo, Vanessa.
Adelaide,
de Adélia confesso que nunca li nada, mas vou reparar isso com certeza, principalmente com sua indicação.
Quintana, meu poeta conterrâneo amado! Tenho uma foto com ele no meu blog. Um grande contador de sentimentos.
Beijos carinhosos
Você vai amar os textos dela, Beti.
Beijo grande.
Oi Adelia,
Como sempre, Quintana acerta. A vida às vêzes nos dá alguns presentes de grego , aqueles que nos transformam em pior que somos.E a gente aceita.
Beijo, querida.
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