Uma carta de amor
Equidistantes, quilômetros às dezenas de milhares, o que isso quer dizer?
Saber não é seguro. Ao lado do que se sabe, muita coisa pode acontecer, como as cores que fogem ao registro da imagem ou um fenômeno natural inesperado. Sabia tanto, até te encontrar e isso mudar tudo, absolutamente tudo em minha vida. É sempre o inesperado.
É também o inesperado que temo reencontrar, agora com outra cara, adverso, inquietante. Porque só está claro o que ouço ao telefone, o que vejo em fotos e leio nas cartas. Tudo o mais é obscuro, desconhecido, estranho. Não é preciso mentir para enganar alguém. Pode-se enganar por tantos motivos, até por amor, para não fazer com que o outro sofra, para não perder alguma coisa ou o próprio amor.
E há os riscos, as dúvidas, as incertezas que se acumulam, se ajeitam e só se movem e se desfazem quando são desmentidas. Como desmentir o que não se vê?
Enquanto durar essa distância, não sabemos nada, nem o que já existiu, o que foi provado, o vivido. O invisível está durando demais.
Até quando, amor?
16 comentários:
Dade, certas questões não têm respostas... Mas tbm já disseram que as respostas, por vezes, estão na própria pergunta...
E nem sempre queremos as respostas.
Um bom fim de semana!
Um beijo!
"saber não é seguro"...prosa filsófica...adorei!
Linda carta, Dade. Muito obrigada pela participação!
bjs
Vanessa
É verdade, Melissa.
Beijo.
Nem tão filosófica, Adriana - é assim mesmo.
Beijo
Foi um prazer na hora certa, Vanessa. Eu é que agradeço.
Beijo.
"Como desmentir o que não se vê?"
Sim como? Bastará uma certa forma de sentir? Assim como quem acredita no regresso do sol a cada entardecer...
L.B.
Obrigada Lídia, pelo comentário sensível e amigo.
Beijo.
Ótimo texto, reflexivo, intenso...
Adorei o teu espaço e a maneira como escreves.
Abraço de arte, Dade.
Olá, Luciano.
Seja bem-vindo, e outro arte-abraço pra você.
Oi Adelaide.
Teu texto me fez pensar numa alternativa à angústia do amor cultivado à distância: o amor perfeito.
Em cartas, fotos e telefonemas, os amantes pode se construir ardentes, belos, compreensivos, atenciosos, afetuosos, generosos e eternamente apaixonados.
O que estraga o amor é a convivência. A proximidade desvenda nossas idiossincracias, expõe nossas falhas. Sei de um casamento que terminou porque a mulher tinha o costume apertar o meio do tubo da pasta de dente (as embalagens antigas, de metal), hábito que irritava o marido. Outro naufragou porque a cônjuje não suportava pronunciar o nome do esposo, Juraci ("é nome de mulher", reclamava). Não deu pra manter o relacionamento chamando o cara de "psiu" ou "hei, tu aí". Era constrangedor, principalmente diante dos familiares e amigos. Um descuido higiênico comezinho , como um pedacinho de folha de alface exposto num dente, também já pôs o ponto final numa bela história de amor.
Nelson Rodrigues, argumentaria que
"Todo amor é eterno. Se não é acabou, não era amor." Mas o Nelson era um romântico exagerado. E trágico.
O amor ideal é aquele que está longe dos olhos e perto do coração (olha aí, até que consegui um fecho legal, apesar do lugar comum, naturalmente).
Beijo.
(Ah sim, sobre a nova vestimenta do blog: um tanto quanto soturna. Como te imagino uma mulher solar, acho que não combina contigo. Na minha impressão, você é azul céu. Tá, tá, tá, sei que a minha modestíssima opinião não foi solicitada. Mas eu sou assim, enxerido. Espero não causar melindre, tá?)
Outro beijo.
Pois é, Jens. Amor idealizado é bem mais fácil, concordo com você. Só que fica um vazio no meio, concorda? A convivência, apesar dos pesares, é que amadurece as pessoas e os sentimentos. A não ser, é claro, que a gente prefira nunca passar da adolescência.
Beijo pra você.
Ah, Dade...
Eu não conseguiria viver amor sem pele. Me inquieta a simples existência e o esse até quando me tiraria o pouco sono que me resta.
Lindíssima a sua carta. Real e inteira, ainda que pela metade (metade em foto é metade, ou é vazio?).
Beijoca
Que belo texto, Adelaide.
Minha namorada vive em outro estado. Estamos distantes, mas a chama do amor não fenece. Mesmo com as saudades, os sofreres, podemos dizer como você que "o invisível está durando". E que "ele seja infinito enquanto dure", como disse Vinícius numa outra carta de amor.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Dá pra aguentar, quando existe um amor maduro. Nunca no começo da relação.
Beijo, querida.
Então você sabe do que eu estou falando, Marco. Distância não destrói o amor, às vezes alimenta de saudade e o encontro é sempre melhor.
Beijo.
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