sábado

Postagem coletiva do Fio


 Uma carta de amor


Equidistantes, quilômetros às dezenas de milhares, o que isso quer dizer? Saber não é seguro. Ao lado do que se sabe, muita coisa pode acontecer, como as cores que fogem ao registro da imagem ou um fenômeno natural inesperado. Sabia tanto, até te encontrar e isso mudar tudo, absolutamente tudo em minha vida. É sempre o inesperado. É também o inesperado que temo reencontrar, agora com outra cara, adverso, inquietante. Porque só está claro o que ouço ao telefone, o que vejo em fotos e leio nas cartas. Tudo o mais é obscuro, desconhecido, estranho. Não é preciso mentir para enganar alguém. Pode-se enganar por tantos motivos, até por amor, para não fazer com que o outro sofra, para não perder alguma coisa ou o próprio amor. E há os riscos, as dúvidas, as incertezas que se acumulam, se ajeitam e só se movem e se desfazem quando são desmentidas. Como desmentir o que não se vê? Enquanto durar essa distância, não sabemos nada, nem o que já existiu, o que foi provado, o vivido. O invisível está durando demais. Até quando, amor?

16 comentários:

Melissa disse...

Dade, certas questões não têm respostas... Mas tbm já disseram que as respostas, por vezes, estão na própria pergunta...
E nem sempre queremos as respostas.

Um bom fim de semana!
Um beijo!

Adriana Riess Karnal disse...

"saber não é seguro"...prosa filsófica...adorei!

Vanessa Anacleto disse...

Linda carta, Dade. Muito obrigada pela participação!


bjs

Vanessa

dade amorim disse...

É verdade, Melissa.

Beijo.

dade amorim disse...

Nem tão filosófica, Adriana - é assim mesmo.

Beijo

dade amorim disse...

Foi um prazer na hora certa, Vanessa. Eu é que agradeço.

Beijo.

Lídia Borges disse...

"Como desmentir o que não se vê?"

Sim como? Bastará uma certa forma de sentir? Assim como quem acredita no regresso do sol a cada entardecer...

L.B.

dade amorim disse...

Obrigada Lídia, pelo comentário sensível e amigo.

Beijo.

Luciano disse...

Ótimo texto, reflexivo, intenso...
Adorei o teu espaço e a maneira como escreves.
Abraço de arte, Dade.

dade amorim disse...

Olá, Luciano.

Seja bem-vindo, e outro arte-abraço pra você.

Jens disse...

Oi Adelaide.
Teu texto me fez pensar numa alternativa à angústia do amor cultivado à distância: o amor perfeito.
Em cartas, fotos e telefonemas, os amantes pode se construir ardentes, belos, compreensivos, atenciosos, afetuosos, generosos e eternamente apaixonados.
O que estraga o amor é a convivência. A proximidade desvenda nossas idiossincracias, expõe nossas falhas. Sei de um casamento que terminou porque a mulher tinha o costume apertar o meio do tubo da pasta de dente (as embalagens antigas, de metal), hábito que irritava o marido. Outro naufragou porque a cônjuje não suportava pronunciar o nome do esposo, Juraci ("é nome de mulher", reclamava). Não deu pra manter o relacionamento chamando o cara de "psiu" ou "hei, tu aí". Era constrangedor, principalmente diante dos familiares e amigos. Um descuido higiênico comezinho , como um pedacinho de folha de alface exposto num dente, também já pôs o ponto final numa bela história de amor.
Nelson Rodrigues, argumentaria que
"Todo amor é eterno. Se não é acabou, não era amor." Mas o Nelson era um romântico exagerado. E trágico.
O amor ideal é aquele que está longe dos olhos e perto do coração (olha aí, até que consegui um fecho legal, apesar do lugar comum, naturalmente).

Beijo.

(Ah sim, sobre a nova vestimenta do blog: um tanto quanto soturna. Como te imagino uma mulher solar, acho que não combina contigo. Na minha impressão, você é azul céu. Tá, tá, tá, sei que a minha modestíssima opinião não foi solicitada. Mas eu sou assim, enxerido. Espero não causar melindre, tá?)

Outro beijo.

dade amorim disse...

Pois é, Jens. Amor idealizado é bem mais fácil, concordo com você. Só que fica um vazio no meio, concorda? A convivência, apesar dos pesares, é que amadurece as pessoas e os sentimentos. A não ser, é claro, que a gente prefira nunca passar da adolescência.

Beijo pra você.

Sylvia Araujo disse...

Ah, Dade...
Eu não conseguiria viver amor sem pele. Me inquieta a simples existência e o esse até quando me tiraria o pouco sono que me resta.

Lindíssima a sua carta. Real e inteira, ainda que pela metade (metade em foto é metade, ou é vazio?).

Beijoca

Marco disse...

Que belo texto, Adelaide.
Minha namorada vive em outro estado. Estamos distantes, mas a chama do amor não fenece. Mesmo com as saudades, os sofreres, podemos dizer como você que "o invisível está durando". E que "ele seja infinito enquanto dure", como disse Vinícius numa outra carta de amor.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

dade amorim disse...

Dá pra aguentar, quando existe um amor maduro. Nunca no começo da relação.

Beijo, querida.

dade amorim disse...

Então você sabe do que eu estou falando, Marco. Distância não destrói o amor, às vezes alimenta de saudade e o encontro é sempre melhor.

Beijo.