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A Educação segundo Rousseau





O respeito às diferenças e a obediência às leis da natureza, tanto no sentido genérico como no de diferenças individuais nas diversas fases da existência, foram princípios que o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) levou às últimas consequências. Sua crença de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe conduziu um pensamento em que a educação deve livrar o homem das imposições sociais, ensinando-o a viver de acordo com a natureza e em liberdade.

A desigualdade entre os cidadãos, devida a circunstâncias sociais, indica as falhas da civilização, que vão do ciúme nas relações amorosas à institucionalização da propriedade privada, pilar do sistema econômico. Para amenizar essas desigualdades, a sociedade criou artifícios como o culto das aparências e a necessidade da polidez. Reconquistar a liberdade seria o primeiro objetivo da educação, a começar pela busca do autoconhecimento. Mas em vez de usar a razão, o educador usaria a emoção, sob a forma de entrega sensorial à natureza. E o primeiro passo nesse sentido seria modificar o relacionamento rígido entre adultos e crianças.

A criança deixa de ser um adulto em miniatura. Suas idéias e interesses são diferentes daqueles dos adultos, e o relacionamento rígido entre elas e os mais velhos precisa mudar.

A disciplina e a memorização mecânica são impróprias ao desenvolvimento das virtualidades humanas, impondo valores alheios aos interesses genuínos do indivíduo. A educação não deve vir de fora, mas busca a expressão livre da criança em contato com a natureza. Para isso utiliza o brinquedo, o esporte, o trato com a terra, a aprendizagem de vários ofícios e seus instrumentos; a linguagem, o canto, a aritmética e a geometria abrem caminho à adaptação livre da criança a seu meio até os 12 anos, quando prevalecem os sentidos, as emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma. A formação moral e política nessa fase são prioritárias, mais importantes que a mera instrução. Nesse sentido, Rousseau precedeu Maria Montessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1952). Sistematizou uma nova concepção de educação, depois chamada de ‘escola nova’, reunindo vários pedagogos dos séculos 19 e 20.

A opção pela democracia decorreu da defesa da liberdade individual. Seus conceitos sobre educação mostram o processo educativo do nascimento aos 25 anos, enfatizando a fase cognitiva. A infância é um período de virtualidades, indica Freinet, citado por Nascimento (1995): criação, empreendimento, liberdade e cooperação, a partir dos quais o educador visará transformar o educando em um homem e cidadão, antes de fazer dele um “magistrado, soldado ou sacerdote”. E como aponta Peres Pissarra (s.d.), professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, “a dimensão política é crucial em seus princípios de educação.”

Rousseau foi acusado de individualismo e de negar a importância da civilização. Mas o mito do bom selvagem, que idealiza o ser humano livre de constrangimentos sociais, deve ser visto como mero recurso teórico. Seu pensamento soava rebelde, numa época de culto à razão. Enciclopedistas e pensadores da Revolução Francesa de 1789 manifestaram seu desacordo quanto a suas teorias e a seu misticismo, defensor de um Deus “que move o universo e ordena todas as coisas”. Isso não o impediu de colaborar na Enciclopédia Iluminista, com o verbete sobre música, e influenciar artistas do Romantismo; mas as dissensões se acentuaram até o conflito aberto. Voltaire chegou a dizer dele que "ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter em animais".


Cerisara, Ana Beatriz. Rousseau – A Educação na infância. São Paulo: Scipione, 1989. (Coleção Pensamento e Ação do Magistério).
Nascimento, M. Evelyna do. A pedagogia Freinet: natureza, educação e sociedade. Campinas: Unicamp, 1995.
Peres Pissarra, Maria Constança. Rousseau – A Política como exercício pedagógico. Moderna. s.d.

3 comentários:

R. Vieira disse...

Muito interessante o texto Dade!
Obrigada pela partilha!

AnaC disse...

Um texto e tanto, Dade.

Beijos e abraços.

AC disse...

Dade,
Um excelente contributo para um bom e frutuoso diálogo. Uma mesa, algumas cadeiras e abertura de espírito vinham mesmo a calhar, não é assim?

Beijo :)