sábado

Além das palavras

Solidão. Foto sem menção de autor.


Ninguém no mundo dos homens pode se considerar de todo amadurecido antes de perder alguma coisa ou pessoa que tenha representado muito em sua vida – um amigo, um amor, uma crença, uma certeza ou – como agora se tornou tão frequente, com os últimos acontecimentos da política – uma ideologia pela qual lutou e sofreu. É uma certeza dura e fria, que se adquire depois que muitas outras certezas se foram.
Uma grande perda faz com que a gente se perca um pouco de si mesma. É como se nos tirassem um pedaço, um lugar próprio, um alicerce. Como uma árvore sem raiz, uma construção sem fundamentos de repente. Grandes amigos são parte de nós, e quando Caetano diz que a amizade é superior ao amor, sabe o que está dizendo: perder um amor é um verdadeiro trauma, mas em geral o tempo se encarrega de amenizar esse sofrimento. Ver desaparecer um grande amigo, no entanto, daqueles fraternais, com que se conta pra qualquer ocasião, daqueles difíceis de encontrar, mas que às vezes nos são concedidos, é uma dor que nunca mais tem fim. E quando se perdem ideais que nos davam força e razão de lutar e viver, a vida parece vazia.
Ninguém deseja perdas, por menores que sejam. Mas a vida se encarrega de provê-las, e elas acontecem e nos afetam. Essa inevitabilidade, essa impotência diante do irremediável nos transforma, para o bem ou para o mal, em pessoas diferentes. O resultado final depende em cada um, de como elabora e consegue lidar com os golpes que a vida desfere. Depende das reservas subjetivas e da qualidade do caráter do perdedor.
Os livros de auto-ajuda nos recomendam uma atitude positiva diante da vida, e de tanto repetir isso ficamos sugestionados. Mas nem todos podem ganhar. A vida real não manda cartão de boas festas nem respeita o pensamento positivo. A vida real não tem a menor educação; golpeia quem encontra pela frente sem nenhuma razão e sem pedir desculpas. Sem aviso prévio desilude, pratica injustiças gritantes, arranca da gente filhos, pais ou amores. É cúmplice de juízes malignos, ídolos desmascarados, homens e mulheres violentos e crueis.
Meu palpite é que talvez seja mais produtivo pensar sobre como melhorar a realidade que nos cerca. É melhor promover mudanças do que embarcar em palavras que, por mais bonitas que sejam, são vazias como bolas de encher.

6 comentários:

Nanda disse...

Dade, faz alguns dias, Leo Jaime postou no Twitter a opinião de uma pessoa que dizia o seguinte: As eleições são como o filme Alien X Predador. Não importa quem vença, todos nós perdemos. Na ocasião, eu respondi pra essa pessoa que, no filme, os aliens destruiam tudo pela frente; enquanto o Predador tinha alguns valores importantes. Eu até terminei o comentário brincando: se não tem jeito, vote Predador...rs - Os 'aliens' provavelmente vão vencer, mesmo num mar de lama e escândalos e, acredite se quiser, culpando a mídia por divulgar o que está acontecendo. Será que vamos virar a venezuela? Beijos.

dade amorim disse...

Nanda, é isso que eu temo.
Nem me fale.

Beijo beijo.

Anônimo disse...

Dade, não pretendo impor minha fé às pessoas. Mas dou meu testemunho. A doutrina espírita me fez compreender e aceitar essas aparentes perdas, essas aparentes injustiças.
Abs

dade amorim disse...

Tenho amigos e parentes que professam a doutrina espírita. São pessoas extremamente humanas e de boa índole, sensíveis ao sofrimento e solidárias.
Um beijo.

Anônimo disse...

Uma das maneiras de amadurecer é viver e aceitar as perdas inevitáveis que nos afetam.
Palavras sábias, Dade.

Beijos do
César

dade amorim disse...

Falou, César - e sempre falando bem.
Beijo e obrigada pela visita, muito bem-vinda