sexta-feira

Reflexões acima da ortodoxia

ou O que é de fora pode ser de dentro







Fora é um conceito relativo, um advérbio de lugar que todo mundo sabe o que quer dizer e uma palavra cujo significado exato nos escapa por completo. Posso considerar o lado de lá de minha janela como o lado de fora, mas não posso me furtar a considerações sobre o fato de que, estando eu do lado de lá das grades, não estaria do lado de fora, e sim dentro da área do condomínio onde se encontra meu apartamento.


Por outro lado, o que fica além dessa área – a rua, a pracinha em frente e o jardim do prédio fronteiriço, além do resto do mundo – constituiria então o espaço a ser considerado o de fora. Saindo do jardim do condomínio em direção à rua, esta continuaria a ser chamada de “lá fora”. Assim como o próprio jardim também pode ser considerado o lado de fora do prédio, estando eu nele ou não.


Será então o conceito de fora “aquilo que fica a céu aberto”? Mas há terraços a céu aberto que pertencem a uma residência, ficando então o morador à vontade nesse terraço por se achar dentro da sua casa. Levando adiante o assunto, digamos que estamos dentro de uma cidade chamada Rio de Janeiro e que além dos limites de seu município fica o fora do Rio de Janeiro. Também é verdade que estamos dentro de um país chamado Brasil – embora fora de muitos outros lugares – e que fora do Brasil é o estrangeiro. Mas um estrangeiro está dentro do seu país de nascimento e domicílio, donde se pode inferir que o estrangeiro também está, assim como eu, dentro e fora ao mesmo tempo.


Quanto às galáxias que povoam o Universo em que vivemos, não há certezas radicais quanto a indivíduos dentro ou fora de coisa nenhuma, mas para nós eles estarão sempre fora – exceto evidentemente se nossas naves intergalácticas conseguirem chegar lá, caso em que teremos caído dentro da galáxia também, só nos restando como de fora o espaço infinito que não sabemos se é mesmo infinito.


Se esse tal espaço for mesmo infinito e chegarmos a visitá-lo, amiguinhos, não nos restará mais lugar para ficar de fora, e a partir daí teremos que reformular nossos dicionários, gramáticas, vocabulário, organizações e instituições governamentais ou particulares, pontos de vista e sistemas de física e filosofia; deletar a idéia do fora, seus termos escritos, falados e derivados, além de toda e qualquer de suas representações físicas, mentais ou espirituais.


Seremos a partir de então criaturas definitiva e irremediavelmente dentro seja lá do que for, podendo-se inferir daí a difícil situação dos claustrofóbicos.


4 comentários:

Anônimo disse...

Já não me sinto assim tão por fora!

Anônimo disse...

Putz,isso deve ser filosofia espacial rsrsrsrs

Besos
Ana Luísa

dade amorim disse...

Pois fique bem à vontade, Chorik!
Abraço.

dade amorim disse...

Pode bem ser, Ana, mas não garanto nada :)

Besitos