segunda-feira

A minissaia desabou sobre a universidade


Maior sucesso. Ela foi à aula de vestido cor-de-rosa beeeem curtinho, desfila daqui, desfila dali. Mexeu com a cabeça dos meninos/as mais e menos conservadores/as, agitou as massinhas, despertou sentimentos desencontrados – inveja, insegurança, escrúpulos residuais, medo do diferente e, talvez mais que tudo, desejos tanáticos, vontade de agredir, de descarregar a raiva, os ódios e as frustrações em alguém, tipo joga bosta na Geni. Rebu e xingamentos, baixo calão liberado.


As primeiras reações vieram de pessoas circunspectas, mestres, jornalistas do politicamente correto e também genuínos libertários, todos condenando a reação da turba, defendendo a liberdade de se apresentar como bem se desejar, o direito sagrado de não saber se vestir de acordo com a ocasião e até de não ter noção de estética. Não era caso para tentativa de linchamento e ameaça física à moça - essa sim, uma infração grave. Nem podia ser, porque a minissaia é coisa do tempo de nossas avós e está incorporada aos usos da civilização ocidental. À primeira vista, a porção sensata das pessoas concordou com essa primeira reação.


Mas aí veio a segunda, partida da direção da universidade: alegava-se provocação, rebeldia, resistência à voz da autoridade por parte da minissaia rosa. Não se disse nada sobre a violência sofrida por ela, a coação e o risco que correu. Só a provocação e a rebeldia da agredida foi mencionada. E tome expulsão, pena máxima para infratores numa instituição de ensino. Nem tchum pros instigadores da agressão, os puxadores do cordão catártico, os possíveis/prováveis linchadores. Talvez tivessem recebido alguma sanção (branda) se tivessem chegado a lesar fisicamente a provocadora, que de qualquer modo iria para a rua.


Entre ter um trabalhão para investigar, identificar e punir os numerosos agressores, perdendo talvez dez ou quinze clientes pagantes, foi muito mais fácil pegar a vítima – que era uma só e não desfalcaria tanto as finanças da instituição. E de quebra, ainda se agradaria aos pais e responsáveis de mentalidade estreita dessa galera que, reunida, pode ficar tão feroz e perigosa, mas individualmente é apagada e pobre de espírito.


Pitboys, uni-vos para zelar pela moral e pelos bons costumes, e vossas ações acharão acolhida entre os escribas e fariseus manipuladores, que põem o lucro acima de qualquer valor.

A essa altura, leio a manchete na Gazetaweb.com de O Globo:
Expulsão de estudante por minissaia chega à Câmara
Deputados propõem à Comissão de Educação e Cultura audiência pública para que reitoria de universidade exlique expulsão de aluna por causa da roupa

E aqui, MEC quer esclarecimentos da Uniban sobre explusão de aluna
Resolvi esperar pra ver. Ao menos, restava uma esperança de sensatez no fim do túnel.

E agora, afinal, aqui, leio que a universidade desistiu da expulsão da aluna.

Cada um vai tirar suas próprias conclusões.

Quanto à minha, sem querer continuar nesse reino obscurantista da tal universidade, só queria saber o que que esse pessoal tem contra a minissaia.

UP-DATE: Veja aqui o excelente texto de Contardo Calligaris sobre o caso da Uniban.





Também estou no Primeira Fonte, jornal eletrônico das queridas amigas Esther Lúcio Bittencourt e Ana Laura Diniz, que volta a circular em nossos monitores. Uma leitura instigante, legal e rica de ideias.

8 comentários:

Luma Rosa disse...

A minissaia poliu o verniz social e arranhou a hipocrisia. Beijus,

dade amorim disse...

É isso, Luma. Beijo beijo.

Anônimo disse...

É mesmoincrível, em pleno século 21 essa confusão toda por causa de uma minissaia! As pessoas perdem a noção com a maior facilidade.

Bjssss
Kelly

ju disse...

E aquele texto onde a universidade concluía que a atitude da aluna era um desrespeito aos princípios éticos, à dignidade e à moralidade acadêmica?...

Caramba, onde estou? Onde estou? Parece ficção!

Provavelmente, a partir de agora, alunas - e professoras - da tal instituição vão ter que passar o comprimento das saias pela fita métrica antes de sair de casa...

Se a moda pega, quando minha neta chegar à idade da faculdade, para sua segurança, vamos ter que providenciar-lhe uma burka.

Quanta incoerência!

Bjs, Dade, e inté!

PS: Adorei o novo visual do umbigo. Cores quentes, deliciosas...

dade amorim disse...

Pois é, Kelly. Quase inacreditável. Se a gente inventasse uma história dessas, iam dizer que é falsa demais.
Beijo e obrigada pela visita, viu?

dade amorim disse...

Sabe que também pensei nisso? Como nunca se sabe a que ponto as pessoas podem chegar - pra frente ou pra trás - imaginei que Teerã pode muito bem fazer escola. Que futuro negro!
Imagina a mulherada de burka no verão carioca =O/

Beijo, Ju, e obrigada pela visita e pelo comentário.

Jens disse...

Oi Adelaide.
A culpa, desta vez, não é do Lula; é da Mary Quant.
Agora, sem gracinhas: deplorável a tentativa de curra e linchamento. Quem foi que disse que a juventude é libertária? Estaremos no limiar de uma nova Idade das Trevas no tocante à moral? Dizem que depois de uma era de extrema liberdade em relação aos costumes, sobrevem um período de período de intolerância...
(Uma vez também tentaram me linchar. O pecado: ser casado com uma mulher branca, além de ser socialista. Brrr, tempos sombrios aqueles. Espero que não voltem).

Beijo assustado e, de repente, cansado.

dade amorim disse...

A coisa é mais complicada do que parece à primeira vista, Jens. Pode crer. Ainda falo mais disso, que me dá cosquinha no cerebelo.
Beijo.