16
— Que nome esquisito, comentou
Líria, que acabava de dar o banho do mês em Pascal e o enrolava na toalha com
um capuz de orelhas de gato e bigodes. – Esquisito porém fundamental para o
caso do Pôncio, respondeu Laio, que lia o jornal, terminado o café da manhã. –
Olha como ele treme, tadinho, dizia ela, ligando o secador no grau mais fraco.
Laio olhou distraidamente na direção do gatinho. – Está ficando grande,
observou, deixando o jornal de lado e acariciando Pascal. Esse gesto deixava
Líria muito enternecida, e ela se pendurou em seu pescoço para beijá-lo. Dentro
do cercadinho, o gato sacudiu a cabeça e pulou a grade sem ser percebido. Mas
sua dona só iria procurar por ele uns quarenta minutos mais tarde.
O depoimento de Marconolo trouxe
uma novidade que surpreendeu todo mundo: Mônica Lessa nunca tinha estado no
estádio do Rio Comprido e muito menos assistira ao começo do desastre naquela
tarde de dez anos antes. Cosme deu de ombros. – Isso agora não faz nenhuma
diferença, comentou, com seu ar um pouco blasé.
Ela mentiu só pra poder incriminar o Lauro. Foram amantes durante uns dois anos,
aparentemente um dos primeiros casos mais sérios da vida dela, que tinha
dezessete anos quando começaram a se encontrar. – Foi uma mentira inútil,
observou o Castro, já que ela conhecia o episódio por seu envolvimento com ele.
Na certa quis encobrir o caso entre os dois para se proteger.
Marconolo contou também que
Mônica só começara a trabalhar na prefeitura já no final da ligação com Lauro,
quando atingira a maioridade e seu protetor agitava a campanha para a eleição
que iria ganhar. Lauro a deixou de lado por uma vereadora de grande força
política, sem a qual dificilmente teria conseguido o posto. Mônica nunca o
perdoou. Ultimamente, tinha aceito o assédio dele para se vingar de Pôncio, por
quem estava muito interessada e que a evitava. Além da posição, o senador lhe
oferecia altas vantagens financeiras, um emprego em seu gabinete e um estilo de
vida irrecusável. – Você ainda é muito moça, minha querida, e eu nunca deixei
de querer a sua volta – ele tinha dito, após um jantar opulento em sua suite luxuosa.
Depois da famosa transa que quase acabara com o casamento de Pôncio e Larissa,
ela pretendia entregar a fita ao senador, com quem tinha reatado e de quem
ganhara o apartamento no Leblon. Novamente, esperava status e dinheiro pela ligação com Lauro. Mas não contava com a
desconfiança dele, que temia ser traído por ela durante os depoimentos. Mônica
sabia demais, e punha em risco sua segurança e a impunidade com que ele
contava.
Quanto a conseguir testemunhas em
favor de Pôncio, Marconolo se propunha a indicar dois ou três nomes de antigos
colegas de trabalho e, embora titubeante e suado, não teve outro jeito senão
confirmar que aceitava depor contra Lauro. Pouco depois de sair da sala do
Castro, ele caía com uma vertigem. Cosme sugerira que denunciasse Lauro Munhoz
como mandante do assassinato de Mônica Lessa, em troca de proteção da justiça.
Positivamente demais para ele.
Larissa atendeu o telefone na
tarde do domingo e não conseguiu responder logo. Uma voz familiar, que ela logo
identificou como senda a de Hartmann, lhe propunha um encontro de amigos, num
bar do centro, e logo depois se identificava, – desculpe, Larissa, é que ando
com a cabeça meio fora de órbita, ele disse, rindo. – Ah, sim, comandante. –
Como assim, comandante? Por favor, me chame de Roberto. Amigos não usam esse
tratamento tão distante. Larissa sentiu o coração se agitar e não soube
exatamente como responder. Precisou de alguns segundos para tomar a decisão, e
disse que sim, quer iria ao bar do centro. Não estava segura do que iria fazer,
mas não via como dizer não sem contar com um bom álibi. Primeiro era preciso
ouvir o comandante, Roberto, um homem tão fino, tão encantador, que a
impressionara tanto, embora – bem, era preciso dar tempo ao tempo. Pensou em
Pôncio e, como uma sensitiva, não se surpreendia pelo comandante ter aparecido
exatamente naquele momento. Não fosse Hartmann, quase certamente apareceria
algum outro homem capaz de lhe despertar tais sensações.
Falaram-se como velhos amigos,
irmãos, e Pôncio declarou que estava cansado demais e queria dormir muito, até
umas onze horas do dia seguinte. – Claro, meu bem, você está estressado,
precisa descansar. Estava resolvido: aquela entrevista com Hartmann poderia bem
ser útil para garantir a defesa de seu marido. Não tinha a menor ideia de como
isso aconteceria, mas se acreditasse firmemente, quem sabe, estaria decidindo a
sorte deles dois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário