quarta-feira

Depois da quarta-feira de cinzas






Roubado da Maira Parula.



É preciso ter espaço interior de manobra para deixar uma vaga para os outros.



Quando se passa dos 40, mas ainda se está cheio de energia, é difícil lembrar a idade que se tem, embora o espelho insista em ficar dando conselhos sensatos. Ainda bem que ninguém segura os pensamentos e os sentimentos.



O silêncio é também um modo de falar. Às vezes até mais explícito. O que ele diz tem consistência própria. Em alguns casos, o silêncio é um indício de que alguma coisa está se processando. E dependendo de como ele se articula com as palavras e a atitude, pode valer por muitas frases.


















sexta-feira

É carnaval, não precisa dizer mais nada


Foto JB online.


Um imenso carnaval pra cada um de nós - ado, ado, ado, cada um muito feliz no seu quadrado!



Amiga de primeira hora


Recebi da Beta o selinho e a tarefa de contar seis fatos e/ou confissões aleatórias sobre mim.

Então, lá vai:


1. Gente, e os convites para sites de chat que chegam todo dia no e-mail da gente? Em geral vêm em nome de alguém de nossa lista que não é o autor da mensagem. O que mais chateia é o tom invasivo e falsamente descontraído desse tipo de marketing.
Dá dinheiro, captar adeptos para um chat? Mesmo sendo de graça?
Deve ser um caminho para oferecer produtos supérfluos, serviços que ninguém pediu e outras mercadorias perfunctórias, esse tipo de mídia eletrônica onde piscam mil e um patrocínios de construtoras, lojas, hotéis, carros, utilidades, inutilidades, garotos(as) de programa ou amigos, que em certos casos pagam para se ofertar via internet.

2. Cada vez mais forças externas tentam dirigir os atos que deveriam ser de iniciativa exclusiva de cada um, o que lembra muito a história de 1984, de George Orwell. Ontem, revendo Zorba, o Grego (que filme!), e vendo os camponeses de Creta esperando a morte de Hortense para saquear sua casa, pensava na analogia entre aquela cena e a constante intrusão de empresas e pessoas que insistem em nos convencer de que o melhor para nós é o que eles querem – e eles sempre querem nosso dinheiro e nossa submissão para fomentar seu poder.

3. Este mundo às vezes parece um grande manicômio. Outro dia um intelectual dos mais conhecidos e respeitados, de vida pessoal acima de qualquer suspeita, perguntava: “Se eu não curtir mulheres negras, sou racista por isso? E se não curtir louras, também serei tachado de racista? Se não gostar de abacate, cometo algum deslize do ponto de vista da nutrologia?” Tradução: a famosa expressão “politicamente correto”, que em princípio deveria servir para evitar ideias e termos ofensivos a algum setor da sociedade, virou instrumento de pressão sobre as escolhas pessoais e/ou ferramenta do mercado para vender o que nos empurram, com a desculpa de que é útil à arte de bem viver. Aqui, ó.

4. Falando de gosto pessoal e politicamente correto, faço logo uma confissão que pode abalar a auto-estima de algum fisioterapeuta ou cardiologista mandão: sou muito preguiçosa para exercícios físicos (embora não tenha outro jeito senão fazer algum, como já demonstrou João Ubaldo Ribeiro). Adoro uma rede, durmo até tarde e esqueço do tempo batendo um bom papo, lendo, escrevendo, diante de um bom filme ou do computador, o que traduz uma vida sedentária e provavelmente uma mentalidade lamentável. Agito só o mínimo necessário para não enferrujar muito – ainda bem que não fiquei obesa. Em outros tempos, dancei bastante – adoro dançar e ver dançar (Zorba, de novo!), mas agora ouço mais do que danço. Espero não dançar por isso.

5. Acho que viver muito pode não ser viver da melhor maneira. Nesse particular, como em muitos outros, a qualidade é incomparavelmente superior à quantidade. O ideal é juntar as duas – mas, diferente do sol, o ideal não nasce para todos.

6. Acho a paciência um traço de personalidade de dar inveja. As melhores pessoas que conheci, as que me ensinaram alguma coisa de muito bom, são pacientes. O amor e as crianças precisam muito de paciência pra crescer e ficar fortes. Não tem nada a ver com lerdeza, alienação ou indiferença. Ser paciente é saber das coisas, estar atento ao que se passa em volta e se tocar do que os outros estão fazendo e sentindo, sempre. Gosto muito de gente assim (Zorba, de novo! Não tem jeito: hoje Zorba Quinn é meu personagem mais querido).



Dizem as regras que se indiquem seis blogueiros para participarem, publicando eles também o selo que identifica a brincadeira. Então sugiro os nomes: Ana Luísa Kaminski, Jacinta Dantas, Nanda, do Idade da Pedra, Constança Lucas
, Ery Roberto e Andrea Augusto, sempre lembrando que a indicação é leve, leve como uma borboletinha :), até porque, como disse um dia o Chico Buarque, "mas é carnaval, não me diga mais quem é você..."

terça-feira

O encontro que não marquei




Ia começar a faculdade, e o centro da cidade ainda era cheio de segredos, quando descobri o primeiro sebo, na rua de São José. Conhecia Monteiro Lobato e alguns autores, principalmente os da estante de meu pai, uma verdadeira mina. O sebo era uma descoberta e tanto. Fiquei meio perdida e um pouco delirante, conferindo os títulos, já pensando em levar uma pilha deles, quando vi o nome de Clarice Lispector numa lombada um pouquinho mais larga que a da maioria dos livros em volta. Tinha ouvido falar dela, que já fazia sucesso, e comecei a folhear o livro – O Lustre – e a lê-lo ali mesmo.
Nem é o melhor livro de Clarice, hoje sei. Mas era o primeiro dela com que tinha contato, e não conseguia parar de ler. Na condução, em casa, até altas horas, na manhã seguinte e em cada instante entre uma e outra atividade. Quase de um fôlego, até a página 341, a última. Depois vieram os outros, todos, tudo que ela deixou escrito e nunca me cansei de ler.
Anos depois, com a cabeça mais fria e mais informação sobre literatura, acho que o que muitos consideram magia no texto de Clarice é simplesmente poesia. A força dessa primeira experiência deixou isso bem claro: ela escreveu poesia durante toda sua vida. Não uma poesia explicitada em forma de poemas convencionais, mas uma poesia em estado puro, quase bruto, que flui de seus textos espontaneamente e foi sua grande motivação. Um certo aturdimento, o inesperado, as epifanias presentes em seus contos e romances, a escolha dos termos, tudo isso obedece a um impulso que se identifica com o que para mim é o melhor da poesia. Um olhar que não se deixa limitar ou contaminar por convenções ou conveniências, mas vai às fontes, seja lá o que sejam as fontes do que se percebe – e que ninguém descobriu ainda. Um raio-X capaz de ver as pessoas na íntegra, sem se deter na aparência, e chegar aonde o senso comum nem desconfia: a inocência, o primitivo de cada um de nós, o núcleo onde a pessoa se resolve. Clarice via claro o que a maioria apenas obscuramente pode intuir.

sexta-feira

Era de Aquário




"When the Moon is in the seventh house
and Jupiter aligns with Mars.
Then peace will guide the planets
and love will steer the stars."


Há 40 anos, Age of Acquarius, a canção, anunciava que essa configuração – exatamente a do dia 14 próximo, Valentine’s Day nos EUA e na Europa – traria a paz e a concórdia a todos os planetas.

Não entendo nada de astrologia, mas a mensagem é no mínimo sedutora. E como o Dia dos Namorados, lá como aqui, é dedicado ao amor, a gente queria muito acreditar que enfim uma força superior a nosso mesquinho individualismo e a nossos interesses imediatistas será capaz de dar um jeito em comportamentos psicopatas, egoísmos doentios e insensibilidades desastrosas.

A questão que se coloca é saber se o que a astrologia prevê é mais forte que a natureza dos seres humanos que, infalivelmente, no decorrer de sua história, têm se mostrado aptos a praticar a violência, promover o mal-estar do próximo e sua destruição.

De qualquer jeito, que venha o dia 14 de fevereiro de 2009 e nos seja benéfico - se não pela força dos astros, ao menos por alguma feliz conjunção de seres humanos que se entendam e inaugurem a paz em algum lugar deste planeta conturbado.







Dia 17, dia de blogagem coletiva - participe você também! Há sempre um livro que nos marca - aquele que nunca se esquece, aquele que se deixa na cabeceira para reler de vez em quando ou aquele que foi uma epifania, e nos revela outra dimensão da vida. Há livros que se ama como a uma pessoa - o autor? Alguém que ele nos traz entre seus personagens?

segunda-feira

Imaginárias


Foto Aikan Zener


abro a janela de olhar as coisas
acontecidas

lembranças bem-vestidas
passam pisando firme
e vão embora
outras
descalças
entram e ficam

têm olhos grandes e brilham

espero ver crescerem suas asas
até que se desdobrem
nas coisas desejadas que não foram

o vento então sopra forte
minhas cortinas se enfunam como velas
e as lembranças embarcam
apagadas
de volta para o nada de onde vieram

quinta-feira

A voz do povo




Verdade pura e óbvia.
Pena que na hora de votar a gente não seja tão sábia assim.



Presente da amiga Carol Timm.

domingo

Irmã de filha única


Paul Klee. Selecio (Uma cabeça de homem). 1922 Óleo sobre tela.

Oh Deus, tira essa figura inimiga de dentro de mim. Esquizinha me atrapalha muito a vida. Ela pensa diferente, entende?
Quê? Se ela sair de repente eu caio quebrada em duas, metade pra cada lado? Mas se você me ajudar eu chego junto. Você não tem nada com isso? Como não tem? Então eu acredito em você e você não tem nada com isso? Misturando as coisas, eu? Mas se eu vivo misturada com ela, eu puxo pra um lado e ela pro outro! Cacilda, você não é onipotente? Hein?
Ah, isso é jurisdição do psiquiatra? Ele não é onisciente que nem você. E se ele erra a mão? E se me enche de remédio e eu fico lesa? Você nem se incomoda? Me livra dela, deus, me livra dela.
Ah, ela também é sua filha? E ela não quer se ver livre de mim que nem eu dela? Hein, Deus? Fala com ela então. Eu tapo os ouvidos, não vou me meter na conversa, juro.
Ela não te ouve, né? Tá contente da vida, acomodadinha aqui ni mim, bem no quentinho. E eu tentando arrastar a bicha pra fora, pra tomar ar, inventar coisas novas, e ela ali, numa boa vida de fazer raiva, me puxando pra dentro. Ela quer que eu enferruje, percebe? Quer me zerar pra poder reinar sozinha.
Tá bom, Deus, se você se recusa a fazer a cirurgia, vou ter que continuar arrastando Esquizinha pra todo lado, e ela vai continuar me azucrinando as idéias, reclamando de tudo, azedando as conversas e tentando me convencer a ficar em casa lavando e cozinhando. Ela é machista, você sabe.
Uma curiosidade: se você me separasse dela, com qual das duas ficava o meu marido?




Conselho de mãe carioca


Verão tá matando no Rio. A praia anda maravilhosa, de águas mansinhas, cumprindo com louvor seu papel de refrescar e fazer esquecer o calor carioca. Mas é bom ficar de olho: a dermatologia avisa que depois das OITO o sol fica encapetado e pode provocar queimaduras, insolações e câncer de pele. E como ninguém vai à praia antes das oito, é bom levar o protetor 50 e não vacilar.






Aniversário da morte

de Dante – no meu cabelo

estrelas, rosas e centopéias



Nana Naruto
1943

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