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Quando o relógio da sala bateu
duas horas, Líria despertou assustada e pulou do sofá. Não queria chegar
atrasada à reunião do departamento de RH. Passou no banheiro, deu um jeito nos
cabelos, refrescou o hálito e foi até o quarto para trocar a blusa meio
amassada. Batom dentro da bolsa, celular ligado e chave passada na porta,
entrou no carro e teve ainda que esperar que o porteiro atendesse o interfone.
Chegou com uma expressão serena,
talento de atriz herdado da mãe. Tomou seu lugar sem chamar a atenção do chefe
do departamento, sujeito difícil de lidar, e logo trocava ideias com o grupo
sobre datas e amenidades. Uma reunião de rotina, da qual não se podia esperar
resultado muito produtivo. Um acerto de contas inventado para mostrar serviço e
reafirmar o temperamento controlador do doutor Lamego. Pouco antes das quatro
horas estava de volta à sala do oitavo andar, onde a esperavam algumas
carteiras de trabalho e dois funcionários de ar entediado. Tinha almoçado em
casa, bem perto da empresa, e aproveitara para tirar um cochilo que acabou se
aprofundando num sono de quase hora e meia. Dormira muito mal à noite, pensando
nos detalhes do plano que pretendia pôr em prática imediatamente.
Eram mais ou menos cinco e
quarenta quando pegou de novo o jornal que começara a ler durante o café da
manhã. Abriu na segunda parte do primeiro caderno e lá estava a coluna de
Pôncio. A crônica tratava de outro assunto, mas no final, separada do resto do
texto, havia uma notinha reiterando o assunto da véspera e agradecendo aos
leitores que já se haviam manifestado. Líria riu discretamente e entrou no
correio eletrônico. Mas não digitou em seu próprio nome. Abriu nova conta e
redigiu uma mensagem longa sob o novo endereço, enviando-a a ponciojornal@jornal.com. A seguir
entrou em outro servidor de correio. Cadastrou mais alguns endereços com nomes
inventados e enviou novas mensagens. Estava contente com o resultado. Era hora
de voltar para casa, e o sentimento de algum dever cumprido enchia seu espírito
de alegria. Mas ainda havia muito a fazer.
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