segunda-feira

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A morte de Osama Bin Laden e o Jornal Nacional
Começo me apresentando: sou brasileiro, cidadão, bancário e psicólogo da cidade de Fortaleza, CE. Não tenho o costume de escrever sobre política, nem fatos públicos e para ser honesto sobre quase coisa nenhuma, mas hoje não pude me conter. Espero que possam ler até o fim.
Dia 02/05/2011, acabo de chegar em casa depois de um dia de trabalho bastante conturbado, como são os primeiros dias úteis, especialmente as segundas-feiras.
Fiquei sabendo vagamente da morte de Osama Bin Laden a partir de rápidos comentários de clientes. Resolvi assistir ao Jornal Nacional para ver as notícias e fiquei realmente chocado com a forma como o assunto foi tratado. A morte era anunciada com um sorriso no rosto por simplesmente todos os repórteres. Lembrava muito as coberturas festivas, como os carnavais, as vitórias esportivas, as festas de rua. As palavras “celebravam” “festejavam” “comemoravam” eram constantemente citadas e fiquei me perguntando se era realmente de uma morte que aquelas pessoas estavam falando. Em nenhum momento alguém falava sobre como era um sintoma doentio a comemoração em praça pública de um assassinato. Ou de até que ponto aquele comportamento era ético?  
Não estou aqui de maneira nenhuma defendendo as ações de Osama, muito pelo contrário, repudio seus atos, suas mortes. Mas a comemoração em praça pública de uma morte é pelo menos de se estranhar, de se questionar, e em nenhum momento houve um mínimo sinal do contraditório, do outro ponto de vista. Assistindo só conseguia me lembrar das antigas cerimônias de execução da Idade Média, ou mesmo as provocadas pelos regimes radicais como o Talibã, tão criticada pelo mundo “civilizado” ocidental, no qual o povo festejava os assassinatos daquele que por algum motivo  eles consideravam inferiores a si próprios. E o que mais me impressionou é que os argumentos americanos não eram ditos como perspectivas e sim como a verdade nua e crua. Que isso acontecesse na mídia americana não era de se estranhar, mas aqui no Brasil me pareceu um contra-senso.  As questões éticas da comemoração de uma morte em nenhum momento foram questionadas. Era como se fosse o óbvio, natural, a comemoração daquelas mortes.
Uma avó americana foi mostrada com sua netinha tirando fotos, dizendo que era uma lembrança, para a criança, da comemoração daquele dia. A netinha devia ter pouco mais de cinco anos. E o jornal seguia mostrando tudo direitinho, a grande festa, aquele momento tão bonito de assassinato. A sede de sangue era clara. As pessoas se abraçavam, comemoravam, as imagens chegavam a ser bonitas, parecia um réveillon ou a comemoração de um título esportivo, mas não era, era a alegria pela morte, pelo sangue, pela vingança. Espero profundamente que daqui a cem anos isso seja mostrada como sinal de primitivismo da humanidade do nosso tempo.
As imagens do 11 de setembro, que eram repetidas o tempo todo, pareciam um modo de justificar o assassinato de Osama e de mais quatro pessoas, sem nenhum julgamento, e pior, sem nenhum questionamento ético.  
Não aguento mais ver o discurso da paz servir de propósito pra guerra. A história é contada simplesmente por uma perspectiva, a americana, oferecida ao público como uma verdade que dispensa qualquer crítica. O fato de a operação ter sido feita exclusivamente por americanos não é questionado. A troca de tiros, que não resultou em nenhum ferido do lado ianque e cinco mortes do lado oposto, leva a questionar até que ponto se tratou de uma troca de tiros ou de uma simples execução sumária. E se foi uma execução sumária, como parece ter sido, o discurso de que Osama usou sua esposa como escudo mais parece uma última provocação. “O morto era covarde”. Que Osama era corvarde isso é bem sabido; porém também  covarde foi o ato de executar alguém sem julgamento. Não é claro e límpido que sangue só pede mais sangue? Que alguém vai querer vingar essa morte matando e que as mortes que virão pedirão mais mortes ainda?
Nenhum detalhe sobre essa execução, a meu ver, pode ser levado a sério, pois não havia testemunhas, apenas os soldados americanos envolvidos.  Nenhuma autoridade paquistanesa envolvida na operação, e isso sequer foi questionado. Osama foi assassinado NO PAQUISTÃO. O exército americano simplesmente entra, executa, destrói o cenário e se livra do corpo, e nada, absolutamente nada é questionado. Como se realmente o mundo fosse deles, como parecem verdadeiramente acreditar. As autoridades do Paquistão sequer tomam conhecimento do caso. E assim parece se manter toda a imprensa local, pelo mesmo caminho.
Jogaram o corpo no mar. Pronto. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Fizeram um exame de DNA, a partir de uma suposta irmã de Osama, de um cara que diga-se de passagem tem 51 irmãos. Qual a seriedade disso? Ninguém questiona. Não é claro e límpido que existe alguma coisa estranha aí?
Para piorar, ainda vêm vários líderes mundiais a público dar os parabéns ao presidente americado. A justificativa de que Obama não quis bombardear a casa a qual alegaram que se encontrava Osama, por não querer ferir civis inocentes, foi dita como a coisa mais normal do mundo, sem mencionar o banho de sangue ao qual foi submetido o Afeganistão, como a morte de milhares de civis inocentes com a justificativa de encontrar Osama Bin Laden. É como se a guerra nunca tivesse acontecido.
Em nenhum momento um comentário crítico sobre as reais circunstâncias políticas envolvidas no caso. Nada sobre a guerra do Iraque, baseada exclusivamente na alegação americana de que os iraquianos estavam produzindo armas químicas e nucleares, coisa que o próprio relatório americano desmentiu no final, quando admitiram o engano. Saldo da guerra: mais de 100 mil mortos. Em nenhum momento o petróleo foi mencionado, é como se esse produto não tivesse nenhuma relação com os milhares de mortes. Em nenhum momento se falou do financiamento americano ao grupo de Osama Bin Laden, antes que sees grupo se voltasse contra os interesses puramente econômicos dos EUA.
Não estou defendendo os métodos ou atitudes terroristas, mas apenas dizendo que uma guerra como essa não tem mocinhos. O ódio só gera ódio dos dois lados. E isso precisa ser dito. É preciso dizer: "BASTA, CHEGA DE SANGUE”. Quero poder dizer a meus filhos que nós vamos celebrar a paz e o amor e não a morte e a vingança. Milhares de pessoas morreram dos dois lados; isso é lamentável, e a frase que vem a minha mente quando penso nisso todo é a da composição que diz que “Não importam os motivos da guerra; a paz ainda é mais importante que eles”.
Obrigado a quem leu meu desabafo até o fim. Se acharem válido podem passá-lo adiante.
Um abraço a todos,
Daniel Welton


Veja também, no blog "Agrestino", o documentário de John Pilger sobre o assunto.                 

9 comentários:

Amélia disse...

De alguém ouvi que foi melhor terem-no morto que levá-lo a torrar longos anos em Guantánamo...Os USA têm pena de morte em muitos estados. Não concordando com ela (Portugal foi o 1ºpaís a aboli-la, assim como à escravatura), entendo as explosões de alegra dos familiares dos milhares de vítimas (alguns de religião islâmica) dos atentados que fomentou e pagou um pouco por toda a parte. Deu bons pretextos aos USA para invadirem o Afeganistão e o Iraque...E creio, francamente, que sem ele o mundo ficou aliviado...vejamos o que os tentáculos da rede que criou farão a seguir...Um pormenor: os USA não reconhecem a jurisdição do TPI. Eles lá sabem porquê e não, certamente, por razões nobres e confessáveis.

César disse...

Apoio integralmente o que escreveu o Daniel Welton e assino embaixo. Essas mortes envergonham a civilização ocidental e pior ainda o país que a representa de modo mais proeminente.

Anônimo disse...

O que houve conosco?
Será que perdemos nossas referências?
Não há mais princípios éticos?
Todos somos casuístas?

No mínimo, este assassinato foi uma queima de arquivo.

Manoel Carlos

dade amorim disse...

Concordo em que ele era uma ameaça (entre tantas outras) e que o fato de ter sumido da face da terra (sumiu mesmo?) não chega a entreistecer ninguém que não pertença ao AlQaeda. Mas ressalvo um pequeno detalhe, Amélia: foi um assassinato.

Beijo.

dade amorim disse...

A resposta certa é: todas as alternativas estão corretas, Manoel.

Beijo pra você.

dade amorim disse...

Inteiramente de acordo com você, Cesar.
Um beijo.

dade amorim disse...

Um assunto controvertido, difícil de classificar, Amélia.

Beijos.

dade amorim disse...

Ele apresenta argumentos válidos, sim. Acho que temos que esperar um pouco para ver até onde vai essa história triste.

Beijo.

dade amorim disse...

Sim queima de arquivo, com certeza.

Beijo, Manoel.