A criação literária é o momento privilegiado da
palavra, quando se convocam imagens e estados subjetivos em função de uma
criação única e intransferível. A obra de criação é autobiográfica como o
sonho, ainda que não seja confessional. O que se manifesta na obra de criação
tem suas raízes firmemente cravadas na subjetividade. Há sempre um pouco de
sonho na obra de criação.
Palavra e imagem se fundem num texto que irá afetar
de modos diferentes seus leitores. As pesquisas sobre o tema demonstram que a
recepção individual do texto literário se dá em uma zona de condensação
organizada por um inconsciente e sua subjetividade. Os elementos que contam para
o indivíduo que lê vão além dos conceitos vigentes da cultura e dos preceitos
de sua sociedade – embora esses fatores sejam de grande importância.
A explicação disso se deve em parte à disjunção
palavra-coisa. Descobrimos que fomos vitimados por uma série de separações,
quando acontecimentos como perdas, mortes ou omissões se reduziam a palavras
que deixavam escapar seu verdadeiro sentido. O passado não cabe nas palavras
com que o evocamos porque não foi e não será como o recordamos ou falamos dele.
Por sua vez, a imagem pode exibir acontecimentos em
outra dimensão, mas a ilusão de seu poder também é um risco. Não vale mais nem
menos que a palavra: é diferente. Os limites, os vazios, as imprecisões e a
multiplicidade das palavras e da linguagem têm uma espécie de contrapartida na
imagem. As palavras reduzem e atenuam o real que a imagem resgata. Mas é bom
estar atento a um engano também nesse domínio. A imagem reproduzida e divulgada
ao ponto que a vemos na propaganda e na mídia se destina a criar novas ilusões,
porque a experiência que ela oferece não é a experiência do real. Enquanto
representação do real, a imagem merece respeito. Rebaixada a vendedora de
ilusões e propagadora da mentira, é uma fraude lamentável, que faz da ilusão
uma razão de viver.
Como em tudo nesta vida, o real tem que ser a
medida de todas as coisas.
2 comentários:
Taí, gostei demais!
Um beijo.
Um ótimo texto, Dade. Desses que você faz tão bem.
Beijo grande.
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