A senhora se moveu de
leve na poltrona e suspirou. Não bastava que os dias tivessem sempre o mesmo
número de horas, que o sol batesse sempre do mesmo lado da sala e ameaçasse
desbotar o adamascado do grande sofá que acompanhava a família há quase dois
séculos. Não. Era preciso que Arilda dissesse sempre a mesma coisa quando
aparecia na porta do hall, sempre a mesma cara meio assustada. É tarde,
experimentou dizer para ver a reação da empregada, que arregalou mais os olhos
e ficou muda. Não fique assim parada, Arilda, pelo amor de Deus, vá tratar de
arrumar os quartos e de fazer meu café. A senhora, Eu o quê? Ela desviou o
olhar e parou antes da porta da cozinha. Está... aborrecida comigo? De onde viria
tanta insegurança, meu bom Deus, não fosse eu a piedade em pessoa e já teria
varrido de minha casa essa criatura abobalhada, Não, Arilda, não estou
aborrecida com você nem com ninguém, estou é com fome, por favor, traga meu
café.
(Trecho de uma história em andamento.)
4 comentários:
Um excerto de um dia a dia que vai acontecendo aqui e ali... com toda a normalidade.
As interrogações e as incompreensões fazem parte da normalidade!
Beijos.
Tão bonito, Dade!
Ainda existe isto? Alguém que pede café? E porque não faz?
Bom saber.
Beijos
Mirze
Com certeza, mfc.
Abraço grande.
Ah, existe sim, Mirze. Ainda não passou esse tempo...
Beijo.
Postar um comentário