Foto Roberto Febran. Relógio.
Você ainda pode ouvir a gente? Ao menos pode achar graça nas
piadas que gostava tanto de ouvir e contar?
Pergunto tudo isso porque é difícil acreditar que não se
consegue mais falar com você. Fico pensando no cafezinho da tarde, no grupo dos
amigos do peito, daqueles leais, que não se escafederam na hora do aperto, nem
quando ser seu amigo era um perigoso fator de instabilidade do emprego.
Você ainda é comunista? Pode jogar com a ironia de outros
tempos? Porque, além de comuna impenitente, você sabia ser sarcástico sem ódio,
o que é uma virtude e tanto.
Tua ideologia não te trazia qualquer vantagem. Acho mesmo
que foi uma espécie de altruísmo, porque só atrapalhou, e mesmo assim você nem
piscou, ficou do mesmo lado.
Era difícil para os adversários, você sabia ser indigesto. O
que não é de admirar, porque ideologia é coisa pesada de carregar pela vida.
Além disso, os adversários de mau caráter costumavam te odiar mais ainda por
essa espécie de intrepidez de que eles seriam incapazes. Especialmente se você
cai num ninho de neo-liberais ferrenhos, filhos de famílias da alta burguesia,
um que outro até militante do CCC – você ainda lembra deles, de como eram
ridículos?
O bom é que você nunca pediu atestado nem carteirinha a
ninguém pra se aproximar e ficar amigo. Você gostava mesmo era de gente, de
preferência de boa qualidade – nunca, nunca em função da roupa que usasse ou da
marca do carro. Entre os humanistas que tive o prazer de conhecer, nunca vi tão
libertário.
Agora acho que você era o responsável pela alegria daqueles
momentos. O grupo ainda se encontra para o café da tarde, mas de repente cai um
vazio no meio, o café esfria e vai cada um pro seu lado. Queria ao menos saber
se você ainda sente alegria.
10 comentários:
Recado dado. Lindo, visceral. Arremate de ouro, Dade!
Abraços!
Claro que aquilo em que a gente acreditou ainda nos provoca uma certa nostalgia!
Tocante homenagem a alguém que nos faz falta. Lindo texto, linda ideia.
Beijo, Dade.
Maravilha!
Dade, eu faço isso. Não me interessa se ouvem, vou lá e converso com papai, mamãe e meu irmão.
Dá um alívio que acho que ouvem.
Lindo de morrer!
Beijos
Mirze
Que pessoa interessante, Dade, digno de toda a saudade que vc parece sentir. Devia ter facebook do "outro lado"... o que mais me desespera nessa saudade de quem está por lá é justamente não poder trocar uma ou duas palavras de vez em quando, nem que fosse bemmmm de vez em quando. Também falo com eles... quem sabe, né?
Beijokas e uma boa semana.
Grata pela força, Rafael.
Beijo.
Com toda certeza, mfc. Nostalgia duradoura.
Beijo com carinho.
Enylton, você sabe como é isso.
Abração.
Mirze, pra nós eles ouvem, talvez até respondam a seu modo, mas respondem.
Beijo, querida.
Pois é, Lua amiga, seria bom demais.
Beijos.
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