Ninguém no mundo dos homens pode se considerar de
todo amadurecido antes de perder alguma coisa ou pessoa que tenha representado
muito em sua vida – um amigo, um amor, uma crença, uma certeza ou – como agora
se tornou tão frequente, com os últimos acontecimentos da política – uma
ideologia pela qual lutou e sofreu. É uma certeza dura e fria, que se adquire
depois que muitas outras certezas se foram.
Uma grande perda faz com que a gente se perca um
pouco de si mesma. É como se nos tirassem um pedaço, um lugar próprio, um
alicerce. Como uma árvore sem raiz, uma construção sem fundamentos de repente.
Grandes amigos são parte de nós, e quando Caetano diz que a amizade é superior
ao amor, sabe o que está dizendo: perder um amor é um verdadeiro trauma, mas em
geral o tempo se encarrega de amenizar esse sofrimento. Ver desaparecer um
grande amigo, no entanto, daqueles fraternais, com que se conta pra qualquer
ocasião, daqueles difíceis de encontrar, mas que às vezes nos são concedidos, é
uma dor que nunca mais tem fim. E quando se perdem ideais que nos davam força e
razão de lutar e viver, a vida parece vazia.
Ninguém deseja perdas, por menores que sejam. Mas a
vida se encarrega de provê-las, e elas acontecem e nos afetam. Essa
inevitabilidade, essa impotência diante do irremediável nos transforma, para o
bem ou para o mal, em pessoas diferentes. O resultado final depende em cada um,
de como elabora e consegue lidar com os golpes que a vida desfere. Depende das
reservas subjetivas e da qualidade do caráter do perdedor.
Os livros de auto-ajuda nos recomendam uma atitude
positiva diante da vida, e de tanto repetir isso ficamos sugestionados. Mas nem
todos podem ganhar. A vida real não manda cartão de boas festas nem respeita o
pensamento positivo. A vida real não tem a menor educação; golpeia quem
encontra pela frente sem nenhuma razão e sem pedir desculpas. Sem aviso prévio
desilude, pratica injustiças gritantes, arranca da gente filhos, pais ou
amores. É cúmplice de juízes malignos, ídolos desmascarados, homens e mulheres
violentos e crueis.
Meu palpite é que talvez seja mais produtivo pensar
sobre como melhorar a realidade que nos cerca. É melhor promover mudanças do
que embarcar em palavras que, por mais bonitas que sejam, são vazias como bolas
de encher.