sexta-feira

Aquele dias em Búzios



Lembrava Búzios de outro tempo, do tempo com ele. Daquele ponto em que só se via o mar e o céu, os rochedos envolvidos em espuma e a imensa placidez ondulando de leve. O vento era um clima, dava vida à música, levava e trazia, falava entre os cabelos. Um tempo de paixão e irreverência, langores e jogos movidos a ansiedade. O tempo da paixão é também um tempo de angústia, porque se tem tudo a perder. Mas quando ficavam sozinhos, isolados do mundo no jipe de capota aberta ao vento como jovens deuses pagãos – então tinham tudo e nada no mundo seria capaz de atingi-los.

Da colina só se viam mar e céu, espuma nos rochedos, a imensa placidez a ondular a nossos pés lá embaixo e o vento tecia palavras entre os cabelos. Tudo a ganhar. O tempo da paixão é quando se tem tudo a perder.

Naquelas noites, o brilho avermelhado de Marte parecia prestes a escorrer sobre suas cabeças. Ainda não conheciam toda a extensão da guerra em que se envolveriam. Do horizonte a lua atirava ao mar suas escamas e alagava o mundo com seu desvario misterioso. Reviu o pequeno terraço de mesas brancas, as duas taças esguias da comemoração, ele sussurrava tanta coisa em seu ouvido, o coração da festa, os dois a sós, donos de toda a beleza da terra e meio altos por causa da bebida gelada e dourada, o riso silencioso e o beijo em que tinham se perdido noite adentro. Na varanda da pousada, o café da manhã, rindo do grupo que haviam deixado sem avisar ninguém. A escalada pela encosta até a Prainha, os mergulhos na tarde morna, idílios no banquinho de madeira carcomida olhando os barcos no ancoradouro dos Ossos.

2 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Uma delícia de leitura e o vento sussurando nos cabelos...

Beijos,

dade amorim disse...

Obrigada, Tania, vc é um amor.
Bjss