Lembrava Búzios de outro
tempo, do tempo com ele. Daquele ponto em que só se via o mar e o céu, os
rochedos envolvidos em espuma e a imensa placidez ondulando de leve. O vento
era um clima, dava vida à música, levava e trazia, falava entre os cabelos. Um
tempo de paixão e irreverência, langores e jogos movidos a ansiedade. O tempo
da paixão é também um tempo de angústia, porque se tem tudo a perder. Mas
quando ficavam sozinhos, isolados do mundo no jipe de capota aberta ao vento
como jovens deuses pagãos – então tinham tudo e nada no mundo seria capaz de
atingi-los.
Da colina só se viam mar
e céu, espuma nos rochedos, a imensa placidez a ondular a nossos pés lá embaixo
e o vento tecia palavras entre os cabelos. Tudo a ganhar. O tempo da paixão é
quando se tem tudo a perder.
Naquelas noites, o
brilho avermelhado de Marte parecia prestes a escorrer sobre suas cabeças.
Ainda não conheciam toda a extensão da guerra em que se envolveriam. Do
horizonte a lua atirava ao mar suas escamas e alagava o mundo com seu desvario
misterioso. Reviu o pequeno terraço de mesas brancas, as duas taças esguias da
comemoração, ele sussurrava tanta coisa em seu ouvido, o coração da festa, os
dois a sós, donos de toda a beleza da terra e meio altos por causa da bebida
gelada e dourada, o riso silencioso e o beijo em que tinham se perdido noite
adentro. Na varanda da pousada, o café da manhã, rindo do grupo que haviam
deixado sem avisar ninguém. A escalada pela encosta até a Prainha, os mergulhos
na tarde morna, idílios no banquinho de madeira carcomida olhando os barcos no
ancoradouro dos Ossos.
2 comentários:
Uma delícia de leitura e o vento sussurando nos cabelos...
Beijos,
Obrigada, Tania, vc é um amor.
Bjss
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