E de repente todos estavam longe, e ela, sozinha.
Alguns viajaram, outros tinham programas dos quais ela não
fazia parte – coisa de gente do trabalho, grupos da escola, reuniões e festas
com amigos dos irmãos ou dos amigos que ela nem conhecia.
Ficou sozinha em casa durante o fim de semana. A vizinha
mais chegada, grande amiga, fora visitar a mãe e ficaria fora da cidade dois
dias. O namorado a serviço num estado distante como outro país.
Respirou fundo, relaxou os músculos e sorriu. Não sorria de
dentro pra fora, mas de fora pra dentro. Queria com aquele sorriso provar a si
mesma que era possível. Ainda que fosse gregária demais, ainda que a companhia
das pessoas queridas lhe parecesse uma condição de felicidade.
Pensou em pessoas ainda mais distantes. Os que perdera de
vista. Os que não voltariam nunca mais.
Pensou neles, um por um, e sorriu para cada um. Os
distantes, os queridos. Aqueles que logo estariam de volta. Todos existiam,
mesmo longe dela. Era bom lembrar disso.
Então, depois do exercício de lembrar, sorrir, amar de
longe, sentou para trabalhar.
Toda concentrada no que fazia, estava plena e satisfeita com
a vida.
10 comentários:
Um texto excelente, Dade. Foge do lugar-comum de que estar só é fim.
Beijos.
Uma solidão bem acompanhada. Bom texto, Dade!
Beijos,
Nossa, quantas vezes já me senti assim, sorrindo pra dentro de tanta harmonia! Solidão que preenche pequenas lacunas, bem pequenas, mas que são fundamentais para que deem liga...
Beijo carinhoso
MTeresa
Leio teu texto, Dade, olho pra fora e vejo um final de tarde azul-lilás; de outro lado, um laranja-avermelhado. Dentro, o claro: tudo existe independente da gente, o que nos coloca no exato tamanho. Penso que sorrir de fora pra dentro na necessidade de provar algo, é inútil - o sorriso do encontro pessoal é o de dentro pra fora.
Tuas linhas, um olhar cuidadoso, Dade. Sinta-se abraçada também por aqui.
Obrigada pela generosidade, Enylton.
Beijos.
Tânia, estar só e contente é um privilégio.
Beijos.
Eu também, Maria Teresa, eu também.
Beijo beijo.
Rejane, obrigadíssima por esse comentário tão rico.
Beijos.
Tenho esse hábito de começar a sorrir para espantar o que o combate :) Quase sempre dá certo!!
beijoss
LINDO ATÉ O CÉU DESCER!
Dade.
Entrei e vivi o texto que há tempos namorava.
Aliviou meu coração sentir-me nele.
Parabéns, querida!
Beijos
Mirze
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