Karina, de quinze anos, mora no
Andaraí, é morena, tem um metro e sessenta e cinco, é alegre, tem os olhos
puxados e usa os cabelos (que são lisos, lustrosos e muito negros) soltos,
dançando sobre os ombros. Adora um pagode e um baile funk, mas também participa
das festas de hip-hop do clube do bairro. No aniversário ganhou dos amigos da
escola uma mensagem de alto-falante que durou mais de uma hora, mas os vizinhos
não se chatearam, ao contrário: vieram para a porta da vila onde ela mora e
ajudaram a cantar parabéns. Ano que vem entra no cursinho e vai tentar o Enem.
Está indecisa entre educação física e pedagogia. Fuma escondido desde os doze
anos (“era meio gordinha, depois emagreci, mas me acostumei e agora não dá pra
largar”). Não perde as novelas da tarde e a das oito. Lê a Caras e a Quem toda
semana. Acabou um namoro de dois anos (“o amor acabou”) e atualmente fica com
uns colegas que costuma encontrar no clube. Quer casar de véu e grinalda e ter
dois filhos.
Antônia, dezesseis, é uma loura
bronzeada de olhos verdes do Leme. Acorda às nove (menos aos sábados e
domingos), vai à praia e caminha no calçadão todo dia. Malha três vezes por
semana na academia e estuda dança moderna. Diz que quer ser modelo, mas quer
mesmo é tentar o cinema. Estuda artes cênicas e já fez pontas em várias peças
de teatro. Faz o gênero panterinha, esguia, um metro e setenta e dois, tem um
andar que atrai todos os olhares. Escapou de ficar anoréxica por puro modismo.
Adora cinema. Dança duas ou três vezes por semana nas boates da zona Sul –
gosta da Baronetti, vai às vezes às festas da Brazooka e da Paradiso na Casa da
Matriz, mas já dançou tango no Ballroom. Gosta de variar um pouco, e tem uma
boate pequena que ela adora na Barra, mas também vai aos shows do Circo Voador
e da Fundição. Lê a Caras e é sócia
de três locadoras. Namorou um cara da pesada, mas agora só quer ficar e curtir.
Quer viajar muito e conquistar o mundo.
Leandro Mauro, de dezenove anos,
é mulato, alto e bem magro. Tem um rosto expressivo, grandes olhos castanhos e
lábios sensuais, mas é tímido com as meninas. Mora em Copacabana, mas foi
criado no Méier, de onde se mudou há três anos. O pai dele, administrador
regional no bairro de origem, foi nomeado assessor de um deputado federal e
atualmente está lotado em Brasília, mas às vezes passa meses seguidos no Rio.
Leandro passou para a PUC, paisagismo, embora o pai preferisse direito. Sente
falta dos colegas do Méier, substituídos por um grupo de rapazes da classe média
alta. Ele não surfa, não pega pesado na academia nem frequenta boates. É
amarrado numa menina do prédio onde morava, mas agora ela namora um ex-colega.
Está aprendendo a nadar e a dançar – o que detesta – e tem aulas de etiqueta
com um personal trainer, sente-se
ridículo por isso, mas não reclama. Ainda gosta de jogar botão e assiste ao
futebol de domingo, ao Chaves e ao Pânico na tevê. A mãe vive dizendo que ele
precisa se formar, amadurecer e refinar o gosto para impressionar as meninas.
Se você fosse um autor de
novelas, quantas histórias inventaria a partir desses três personagens?
6 comentários:
Acho que, pra começar, surgiria um triângulo amoroso, não: Ou talvez isso seja previsível demais. Vou pensar mais um pouco. Mas pra uma novela de verdade, cada um desses personagens precisaria de um núcleo. Beijos, Dade! Ótima semana.
Acho que daria para umas 100...
Por que não escreves um guião para novela? Tens jeito...
Querida amiga Dade, tem um bom resto de Domingo e boa semana.
Beijo.
É, dá pra criar muita coisa em cima com esses perfis. Um prato cheio pra quem tiver um pires de imaginação. Muito bom, Dade. Meu abraço.
Achei ótimo o comentário, Nanda.
É por aí.
Beijo.
Gracias, querido Nilson.
Beijo pra você.
Olha quem fala! Você é que tem potes de imaginação. Vamos escrever uma novela juntos? ;)
Beijo.
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