Ontem fomos ver Cisne Negro, um filme de qualidades inegáveis (a atuação de Natalie Portman por exemplo está imbatível, assim como os bastidores dos profissionais da dança e a apresentação mais que técnica dos ditos profissionais, seus ensaios etc.). Além de tudo, o filme desenvolve uma espécie de aula sobre o balé clássico visto com olhos contemporâneos, que tornam o conhecido e apreciado Lago dos Cisnes de Tchaikovski menos distante do espectador e ressaltam seu simbolismo de modo bem esperto.
Há controvérsias de profissionais quanto ao ambiente tenso demais que o filme apresenta entre o corpo de bailarinos. De fato, é preciso dar um desconto quanto ao peso desse clima carregado. Muito disso fica por conta da demonstração cabal e minuciosa da insanidade para lá de grave da protagonista, um sofrimento sem refresco. O roteiro com certeza foi inspirado nos primeiros casos relatados por Freud e quase consegue exceder esses casos em gravidade. Se você se interessa por psicanálise, não perca a oportunidade de ver (quase experimentar) o que o mestre chamou histeria, hoje desdobrável em graus e tipos diferenciados de psicose. A angústia e os tormentos alucinatórios de Nina, a ambiciosa prima-ballerina, envolvem o espectador e o mergulham durante algum tempo em seus labirintos vertiginosos de autorrepressão, compulsão e paranoia.
Enquanto a vida avança e a
idade aumenta, esbarramos em inúmeras razões de alegria e até de felicidade
genuína que não estão ligadas ao fato de ser ou não um vencedor, nesse sentido
estrito adotado pela civilização ocidental, em especial no Novo Mundo (que,
convenhamos, parece precocemente envelhecido e meio esclerosado). Se até os
vinte e poucos anos todos experimentamos a deliciosa sensação de onipotência
que a juventude garante, mesmo que não corresponda à verdade objetiva, depois
dos trinta quase sempre começamos a ver a vida com olhos menos delirantes. Se
não estivermos obcecados por esse ideal ególatra e afetivamente esterilizante
de vencer a qualquer preço e destruir todo mundo que possa atrapalhar essa
meta, seremos capazes de avaliar a vida com olhos menos ansiosos. Vale a pena.
12 comentários:
Dade:
Agora fiquei ainda mais curiosa, vou ver. Ainda mais porque acabei de ler, há pouco, O último bailarino de Mao (que já tem filme homônimo e que logo logo estará por aqui); evidentemente que, guardadas as proporções relativamente ao contexto e ao cenário, o aspecto psicológico que norteia os objetivos do artista parece muito semelhante.
Beijos
Está agendado, já me disseram imperdível e assistirei no domingo, impreterivelmente.
Beijos,
já estava querendo ver. sua resenha aumentou em muito o desejo.
qto ao parágrafo final, faço minhas suas palavras - ipsis litteris. deixa? rs...
beijo, querida
Confesso que não li sua postagem, com receio de me influenciar (porque pessoas como você formam opinião, caso não saiba). Eu estou passado. A minha cidade não tem cinema. A vizinha tem, mas não está passando nem esse filme, nem o outro que quero assistir, o Discurso do Rei, por causa do Colin Firth que, dizem, está muito bem. Vou ter que ir até Campinas.
:(
Muito bacana o seu texto-comentário sobre "Cisne Negro". Também achei-o extremamente psicanalítico.
Beijo!
Você tem razão, Maria Teresa, guardadas as devidas diferenças. Mas vale a pena, sim.
Beijo grande.
Espero que tenha gostado, Tânia.
Beijo beijo.
Obrigada, Euza. Você é sempre muito bem-vinda.
Beijos
Chorik, uma das coisas que mais me impressionam no nosso país é esse descaso pela cultura do povo. O número de cidades sem cinemas nem teatros é um sintoma desse descaso. Triste mesmo. Parece que há um interesse em manter as pessoas "por fora" de tudo que acontece no mundo e até aqui mesmo.
Obrigadíssima pelo conceito!
Beijos
Não é mesmo, Natália?
Beijos.
Tópico palpitante neste blogue, opiniôes como aqui vemos emotivam a quem quer que visitar neste sítio :/
Faz mair quantidade do teu espaço, aos teus seguidores.
Anônimo, quem é você mesmo? Não gosto de ficar sem essa inforação nos comentários.
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