A dupla dor-delícia de ser quem se
é e a serenidade são gêmeas bivitelinas. Conhecemos bem as diferenças entre
ambas, e no entanto nos passam certo sentimento de univocidade – como dois
conjuntos matemáticos com uma área em comum que de algum modo os define. São
duas, mas uma precisa da outra para existir inteira.
A experiência mais completa de existir e a serenidade são semelhantes ao
que os químicos chamam de elementos simples, irredutíveis. Convivem em harmonia
e criam intervalos de prevalência; equilibram-se na gangorra dos dias, uma
ajudando a definir e identificar a outra. Fertilizam a argila de que somos
feitos como o adubo e a água fazem com a terra que recebe uma planta.
Só se vive plenamente sendo capaz de mergulhar nessas duas instâncias.
Uma é necessária à outra; são como espelhos com sinais trocados, e por isso
podem se contemplar e fortalecer mutuamente. Sem serenidade a experiência de
estar vivo é menos intensa; os acontecimentos não se desdobram de todo, não
mostram todas as faces que resultaram naquele e não em outro acontecimento.
Entendem-se os motivos pela metade, criam-se julgamentos apressados, falhos, e
fica muito fácil distanciar-se das pessoas por não ser capaz de compreendê-las.
Sem serenidade (essa paz de dentro, que independe de sossego externo e até da
própria paz social), o ego toma conta da situação – e o ego pode ser
considerado uma instância emburrecedora por excelência.
Nem é tão difícil criar esse estado interior a que chamamos de
serenidade. Começa com um olhar sinceramente interessado no que vai dentro de si;
olhar-se como se fosse “de fora”, imaginando ver outra pessoa e suas
alternativas. Outra vantagem da
serenidade é recriar a solidão como quem decora uma casa, ver novidades até no
dia-a-dia, reavaliar a rotina, tornar o tédio um sentimento mais distante. Sozinho
ou acompanhado, é possível aproveitar melhor o que a vida oferece de bom quando
se é capaz de relativizar os maus momentos.
E como é improvável, senão impossível, que alguém consiga atravessar a
vida sem sofrimento, ao menos vai encontrar em si um espaço mais confortável
para seu próprio uso e para quem estiver próximo, porque a serenidade é
resultado de uma espécie de ginástica interior, e dá força e agilidade mental a
quem a conquista.
Aos amigos do Umbigo, um enorme abraço de Feliz Ano Novo!!!
6 comentários:
Queria ver esse texto em colunas de todos os jornais desse país. Porque ele é de uma clareza difícil de se encontrar quando se aborda um tema tão complexo (talvez porque complicamos demais a vida) quanto o sofrer e o serenar. Sem contar que você esbanjou conhecimento escolar, aliando à sua literatura, a química e a matemática. rs
Feliz 2011. Sou amigo do umbigo! Gostei dessa sonoridade! rs
Chorik, é uma grande alegria para mim ter você como um amigo do Umbigo :) Seja bem-vindo e disponha!
Beijo pra você.
O seu blogue abre com uma imagem Avassaladora
Passei aqui lendo. Vim lhe desejar um Tempo Agradável, Harmonioso e com Sabedoria. Nenhuma pessoa indicou-me ou chamou-me aqui. Gostei do que vi e li. Por isso, estou lhe convidando a visitar o meu blog. Muito Simplório por sinal. Mas, dinâmico e autêntico. E se possivel, seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato esperando por você. Se tiveres tuiter, e desejar, é só deixar que agente segue.
Um abraço e fique com DEUS.
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com
Se for preciso faremos gambiarras, mas viveremos todas as coisas do por vir...rs
Verdade moça, ninguém é feliz ou triste o tempo todo, somos toda a nossa doçura e toda a nossa podridão.
É preciso adaptar o jeito de ver as coisas, para podermos usufruir melhor de todas elas.
ótimo fim de semana,
Abraços mil
Obrigada, José Maria. Vou visitar seu blog, a ssim que voltar das férias, pois a conexão está intaermitente.
Obrigada mais uma vez. Um abraço.
Isso mesmo, amiga Janaína.
Obrigada por sua visita, nos vemos breve.
Um beijo.
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