Escuta, existem umas
coisas que eu gostaria de te dizer.
As coisas não dependem
de nós. Você tinha razão quando disse que só nos livros a gente pode inventar a
vida. Talvez existam uns 30% que se podem inventar, quem sabe. Mas os 70%
restantes podem tragar o essencial.
É muito sutil o que
você escreve. Tanto, que às vezes tenho medo que se perca entre nossos dedos.
Se a gente pudesse abstrair a vida do tempo e do espaço, tudo seria diferente.
Sabe, gostaria de te
falar em uma praia branca, extensa, deserta, e que o céu fosse claro para
receber nossas vozes. Não se perderia nada. Ou estaria já tudo perdido, como por
exemplo eu te contar coisas fora do tempo e elas ecoarem como ondas, não
haveria perigo nem responsabilidades. Podíamos escrever na areia molhada,
construir castelos para guardar as palavras que sempre estiveram em nós. Pode ser
que assim nos reconhecêssemos melhor. É bom contar coisas que acabamos por
identificar com o que já tínhamos descoberto antes de contadas.
Mas um desânimo me
assalta, de vez em quando, como por exemplo alguém chegar e tudo que se dissesse
ficasse entrelaçado ao tempo para ser ouvido e sabido por todos. E então, já
nem em pensamento poderíamos, agora....